Pelo mistério do Verbo Encarnado,
nova luz da vossa glória brilhou sobre nós,
para que, contemplando a Deus visível aos nossos olhos,
aprendamos a amar o que é invisível.
segunda-feira, dezembro 26, 2005
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Um santo e feliz Natal
***
Inês
(Até para o ano!)
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Advento do sim
nem todas as perturbações são más
«Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. (...)»
nem tudo é óbvio
«Como será isso, se eu não conheço homem?»
nem sempre a verdade basta por si
«O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.»
mas o sim é sempre possível
porque nada é impossível a Deus.
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.»
o sentido do acontecimento é sempre o mesmo: a salvação do mundo não vem do homem, da sua própria força; é preciso que o homem a acolha e apenas a pode receber como um dom gratuito.
Papa Bento XVI
domingo, dezembro 11, 2005
Advento de alegria
A alegria cristã não está dependente do capricho dos nossos estados de alma ou da maneira como corre a nossa vida.
Quem és tu?
quinta-feira, dezembro 08, 2005
imaculada
ouviu da mulher a solidão do engano
não ouviu a serpente.
disse que mulher e serpente iriam sempre lutar
não lutou contra a desconfiança humana.
esperou o crescer do tempo, dias ou anos
esperou a virgem puríssima
confiar um sim.
abençoai..
abençoai e santificai..
abençoai, santificai e consagrai!
ou
louvar...
louvar e bendizer...
louvar, bendizer e glorificar!
um dia gostava de subir esta escada..
sábado, dezembro 03, 2005
Advento
(E dirá S. Pedro amanhã:
Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto,
empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura,
para que o Senhor vos encontre na paz.
Mas mais que preparar-me todos os dias, preparar-me para todos os dias, digo eu.
Todos os dias Ele vem. Não sei que Natal será possível se não viver essa realidade. Todos os dias.)
domingo, novembro 27, 2005
Advento ou a importância de vigiar
vigiar implica silêncio
... não vá acontecer que por estar entretida em mim me distraia ...
o essencial é invisível aos olhos,
só se vê bem com o coração!
quinta-feira, novembro 24, 2005
Isto hoje vai assim, ao correr do pensamento e dos dedos...
Que fala sem medos, sem fanatismos e com abertura dos assuntos "quentes", mas sem nunca se tornar antagonizante ou político.
Vai ao correr dos dedos ver aquilo que já se tornou um pouco a minha casa espiritual desaparecer devagarinho.
Sei que todas as coisas têm o seu tempo próprio, e que se calhar o seu tempo e relevância se vai esgotando, mas é triste vê-la desaparecer assim sem descendência.
É como jovem que pergunto
Que é dos jovens??
Será que já não é nossa prerrogativa andarmos inquietos? A inquietação já não leva a Deus?
Ou estamos só a começar a "sentar no sofá" cada vez mais cedo?
E é irónico quando são os heróis da paróquia, do grupo de jovens, dos escuteiros, os que mais desaparecem de um dia para o outro.
Vai ao correr dos dedos uma tristeza perante uma igreja que se fecha atrás de um muro de regras e pareceres rígidos e de exlcusão. Que foi do Sínodo? Que foi do Congresso da Nova Evangelização?
Que foi de Cristo que veio para todos?
(Mas vai igualmente ao correr dos dedos descobrir assim nestas tristezas um amor cada vez maior por Cristo e pela Sua Igreja. Por esta Igreja. E por ter no seio dela, e dos jovens, a minha vocação.)
Vai ao correr dos dedos um Banco Alimentar quase sem voluntários.
(Precisamos MESMO de voluntários para Setúbal. Quem poder dar algum do seu tempo este fim de semana que me contacte, ou deixe aqui um comentário.)
Vai ao correr dos dedos ouvir falar de quem "já tem a escola toda", quando tem tão pouca caridade. Assim nas coisas mais simples.
Hoje vão muitas coisas assim, ao correr do pensamento.
quarta-feira, novembro 23, 2005
25
- demorei a levantar-me da cama, arranjei-me com calma, cheguei atrasada (30min), comprei pequenas coisas (em tons rosa, a puxar para a menininha - hoje não era dia para cores fortes nem sisudas).
Foi um dia em que respirei fundo algumas vezes:
- no trânsito de manhã, nas aulas (nos momentos em que estava cansada e sem conseguir ensinar), na livraria em que não encontrei o livro que queria (quando me deixaram à espera), na missa (quando percebi a acusação da Palavra e a misericórdia do Pão), na saída da missa e com a família, nos telefonemas de mimo que não estou habituada a receber.
Foi um dia em que fiz coisas que realmente me sossegam e dão gozo:
- dar aulas, andar por lisboa na baixa (sim, compras! mas daquelas rápidas e objectivas como gosto), dar uma flor à minha mãe (que também me ofereceu flores), estar em adoração sossegada a conversar com Jesus, celebrar a missa com os amigos.
Foi um dia de sketchs cómicos:
- quando me esqueci que não estava com carro (ia já a caminho da garagem da escola para ir a uma reunião q tive de desmarcar)
- quando vi um aluno amuado depois de o ter repreendido e quando uma aluna mete conversa comigo "a professora ficou chateada com o que aconteceu, não foi?"
- quando comprei um alfinete na baixa e, quando partilhei a minha idade (o "amigo" disse-me "25 anos é mesmo uma boa idade, parece que ainda não somos gente mas já somos")
- quando me perguntam à saída da missa "onde almoçaste?" (não almocei..)
- quando me dizem "25?? bem, com as coisas que fazes, ninguém diria" e eu me sinto pequenina e contente por não ter o peso da idade.
Foi um dia em que mudo de quarto:
um já lá vai, venha o próximo se Deus quiser.. e que os amigos estejam para ver!
a amizade é como que um sacramento!
então, que se celebre! :)
segunda-feira, novembro 21, 2005
Hoje é segunda
Neste dia da dedicação da Igreja de Nossa Senhora, construída junto ao templo de Jerusalém, celebramos, juntamente com os cristãos do Oriente, aquela dedicação que Maria fez de si mesma a Deus, logo desde a infância, movida pelo Espírito Santo, de cuja graça tinha sido repleta na sua Imaculada Conceição.
... começa a última semana
Ontem foi domingo
Corporais
1ª Dar de comer a quem tem fome
2ª Dar de beber a quem tem sede
3ª Vestir os nús
4ª Dar pousada aos peregrinos
5ª Assistir aos enfermos
6ª Visitar os presos
7ª Enterrar os mortos
Espirituais
1ª Dar bom conselho
2ª Ensinar os ignorantes
3ª Corrigir os que erram
4ª Consolar os tristes
5ª Perdoar as injúrias
6ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo
7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos
Ontem foi domingo de Cristo-Rei
Ontem fui à sé de setúbal rezar junto das relíquias de Sta Teresinha
... e não achei nenhuma incoerência:
estava lá a Igreja peregrina (em que eu estou)
e a Igreja do Céu (em que ela está),
felizes aos pés do Rei.
e, este ano, Ele mostrou-me a a Sua Face de Misericórdia
(...) Quanto mais longe se estende um reino, mais ele abarca a universalidade do género humano, mais – é incontestável – os homens tomam consciência do elo mútuo que os une. (...) Se o reino de Cristo se estendesse, como ele de facto se estende, a todos os homens, porquê perder a esperança nesta paz que o Rei pacífico veio trazer à terra? Ele veio “reconciliar Consigo todas as coisas” (Col 1,20); “ele não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28). “Chefe de todas as coisas que há no céu e na terra” (Ef 1,20), Ele próprio deu o exemplo da humildade e fez da humildade, juntamente com o preceito da caridade, a sua lei principal. Disse ainda: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,30).
Pio XI (papa de 1922 a 1939) Encíclica Quas Prima, 1925
sexta-feira, novembro 18, 2005
Julgamento
expressão surreal dada ao real
levante-se a arguida!
Macke, mulher com casaco verde
e não é isso o que se pretende com a sanção? que lhe cause sofrimento a si e aos que a rodeiam?
... ou vai dizer-me que é a reinserção…?!
Giacometti, mulher com garganta cortada
Happy Phantom
And if I die today I’ll be the HAPPY Phantom And I’ll go chasin’ the nuns out in the yard _And I’ll run naked through the streets without my mask on And I will never need umbrellas in the rain I’ll wake up in strawberry fields every day And the atrocities of school I can forgive The HAPPY phantom has no right to bitch Oo who the time is getting closer Oo who time to be a ghost Oo who every day we’re getting closer The sun is getting dim Will we pay for who we been So if I die today I’ll be the HAPPY phantom And I’ll go wearin’ my NAUGHTIES like a jewel They’ll be my ticket to the universal opera There’s Judy Garland taking Buddha by the hand And then these seven little men get up to dance they say Confucius does his crossword with a pen I’m still the angel to a girl who hates to SIN Oo who the time is getting close Oo who time to be a ghost Oo who every day we’re getting closer The sun is getting dim Will I pay for who I been Or will I see you dear and wish I could come back You found a girl that you could TRULY love again Will you still call for me when she falls asleep Or do we soon forget the things we cannot see Oo who the time is getting close Oo who time to be a ghost Oo who every day we’re getting closer The sun is getting dim Will I pay for who I been And if I die today And if I die today And if I die today Chasin’ the nuns out in the yard
Tori Amos, Little Earthquakes
Duchamp, Estudo para jogadores de xadrez
Sôtora, tem mais alguma coisa a dizer?
... se tiver, ainda vou a tempo?
terça-feira, novembro 15, 2005
Banda Sonora
When you try your best but you don't succeed
When you get what you want but not what you need
When you feel so tired but you can't sleep
Stuck in reverse
And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone but it goes to waste
Could it be worse?
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
And high up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try you'll never know
Just what you're worth
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
Tears stream down your face
when you lose something you cannot replace
Tears stream down your face
And I
Tears stream down your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down your face
And I
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
Coldplay, X&Y
segunda-feira, novembro 14, 2005
Qualquer coisa de fim de dia não pontual
Roda de cores
ela subiu ao muro do Cais
e na altura em que subiu,
o céu começava a roda das cores
na procura da paleta certa.
no outro lado, a península
de planos rasos à água
recortados pelos prédios emaranhados,
a arrábida como pano de fundo
o rio une o que ele próprio separa
num ritmo rápido para chegar ao mar
- era impossível não termos partido
a corrente puxa-nos o olhar e a vontade!
mas ela não ia partir.
subiu ao muro para subir
dentro de si sem justificações,
num gesto simples e exterior.
ela subiu ao muro do Cais
ele subiu logo a seguir e deu-lhe a mão
e não sei se foi ataque romântico
mas o céu passou a encarnado nessa altura
domingo, novembro 13, 2005
Hoje é Domingo
... tive medo ...
Matemática do Reino
a questão não é contar sempre o que já dei e já recebi
e fazer a tabela da contabilidade
mesmo sem a marca da tesouraria
é grande a tendência de o fazer..
a questão não é contar os talentos
a questão e multiplicar sempre o que tenho
que pela minha parte eu esteja totalmente empenhada
e sem medo
volto ao mesmo
a questão é amar sempre
até ao máximo do meu coração
e mais!
percebê-lo rasgar-se
para acolher os talentos multiplicados
não tenhais medo de vos dar a Cristo! Ele não tira nada, dá tudo
Ontem foi sábado
"Salve Rainha" te repetimos nós, hoje, porque esperamos que nos conduzas a Cristo, fonte da Vida, porque te pedimos que nos ensines a amar com a simplicidade e radicalidade com que o teu coração de mulher se abriu ao amor, porque queremos confiar em Ti, deixar-nos atrair por Ti, porque nos abandonamos à Tua ternura maternal.
...foi inevitável a emoção!
ver Lisboa sair à rua para rezar a Nossa Senhora,
ver a imagem tão no coração da cidade,
perceber que Nossa Senhora também vai descendo devagarinho aos nossos corações...
terça-feira, novembro 08, 2005
Contexto, banda sonora, sequência e leitura..
... sento-me ao espelho e grito ..
Muito pouco
pronto
agora que voltou tudo ao normal
talvez você consiga ser menos rei
e um pouco mais real
esqueça
as horas nunca andam para trás
todo dia é dia de aprender um pouco
do muito que a vida trás
mas muito pra mim é tão pouco
e pouco é um pouco demais
viver tá-me deixando louca
não sei mais do que sou capaz
gritando pra não ficar rouca
em guerra lutando por paz
muito pra mim é tão pouco
e pouco eu não quero (mais)
chega!
não me condene pelo seu penar
pesos e medidas não servem
pra ninguém poder nos comparar
por que
eu não pertenço ao mesmo lugar
em que você se afunda tão raso
não dá nem pra tentar te salvar
... veja
a qualidade está inferior
e não é a quantidade que faz
a estrutura de um grande amor
simplesmente seja
o que você julgar ser o melhor
mas lembre-se que tudo o que começa com muito
pode acabar muito pior
Maria Rita, Segundo
.. sento-me ao espelho e grito ..
corro rápido na descida
chego e despejo
e peço peço peço
e recebo o encontro que me abençoa
volto e penso e penso
demais, já sei
quando vou à tua procura
não estás
.. sento-me ao espelho e grito ..
.. e paro de gritar porque há a certeza:
quem ama, corrige
Deixando às almas grandes, às grandes inteligências, os belos livros que não posso compreender, e ainda menos pôr em prática, regozijo-me por ser pequenina.
Sta Teresinha, carta 226 ao P. Roulland
domingo, novembro 06, 2005
Hoje é Domingo
Quem a busca desde a aurora não se fatigará, pois há-de encontrá-la sentada à sua porta.Livro da Sabedoria
terça-feira, novembro 01, 2005
no mês do Rei
foi ganhando peso na minha vida
crescendo
como uma missão entregue:
nasci no fim, e agora?
na lógica absurda
no fim procurar o infinito
este coração pequeno
com desejos fortes que o rasgam
tenta rasgar-se ainda mais
quase violentamente
excessivamente!
quando me olhas com desejo
de quem me espera desde sempre
mês da urgência de olhar pela memória
não pela janela onde me debruço demais
mas através da porta por onde quero entrar
oiço a festa no outro lado:
ainda não participo plenamente
mas sou chamada, no mistério.
uma ajuda
(...)
Celina, Deus não me pede já nada...
No princípio pedia-me uma infinidade de coisas. Pensei durante algum tempo, visto que Jesus não me pedia nada, que agora era preciso caminhar suavemente na paz e no amor fazendo somente o que Ele me pedisse... Mas tive uma luz.
Santa Teresa diz que é preciso alimentar o amor. A lenha não se encontra ao nosso alcance quando estamos nas trevas, na aridez, mas não estaremos ao menos obrigadas a lançar nele algumas palhinhas? Jesus é suficientemente poderoso para conservar sozinho o fogo, todavia fica contente por nos ver alimentá-lo, é uma delicadeza que Lhe agrada e então lança Ele no fogo muita lenha, nós não O vemos mas sentimos a força do calor do amor. Tenho feito disto a experiência, quando não sinto nada, quando sou incapaz de rezar, ou de praticar a virtude, é então o momento de procurar pequenas ocasiões, nadas que dão gosto, mais gosto a Jesus do que ao império do mundo ou mesmo do que o martírio sofrido generosamente, por exemplo, um sorriso, uma palavra amável quando teria vontade de não dizer nada ou de mostrar um ar aborrecido, etc., etc. Compreendes querida Celina?
Cta 143 A Celina, Sta Teresinha
Meio de Leitura, Banda Sonora e consequências
"Where is this King, who is apparelled like a beggar - this boy who brings shame upon our state? Surely we will slay him, for he is unworthy to rule over us"
And the young King bowed his head again, and prayed, and when he had finished his prayer he rose up, and turning round he looked at them sadly.
Wilde O, The Young King in The Happy Prince and Other Stories
Caminho das Águas
Leva no teu bumbar, me leva
leva que quero ver meu Pai
caminho bordado a fé
caminho das águas
me leva que quero ver meu Pai
a barca segue seu rumo, lenta
como quem já não quer mais chegar
como quem se acostomou no canto das águas
como quem já não quer mais voltar
os olhos da morena bonita
aguenta, que tô chegando já
na roda cantar com 'ocê
ouvir a zabumba
me leva que quero ver meu Pai.
Maria Rita, segundo
Novembro, mês do Rei
a barca vai lenta para que eu possa entrar.. mas com a esperança de chegar
domingo, outubro 23, 2005
Hoje é Domingo
Hoje encontrei-me com Carlos de Foucauld:
« L’amour est inséparable de l’imitation. Quiconque aime veut imiter : c’est le secret de ma vie. J’ai perdu mon cœur pour ce Jésus de Nazareth crucifié il y a 1.900 ans et je passe ma vie à le chercher et à l’imiter » .
« Il ne nous est pas possible de l’aimer sans l’imiter, de l’aimer sans vouloir être ce qu’il fut, faire ce qu’il fit, souffrir et mourir dans les tourments, il ne nous est pas possible de l’aimer et de vouloir être couronné de roses quand il l’a été d’épines »
Hoje reencontrei-me com Sta Teresinha:
Vivre d'Amour, c'est garder en soi-même Un grand trésor en un vase mortel Mon
Bien-Aimé, ma faiblesse est extrême Ah je suis loin d'être un ange du ciel !...
Mais si je tombe à chaque heure qui passe Me relevant tu viens à mon
secours, A chaque instant tu me donnes ta grâce Je vis d'Amour.
Hoje procuro a missão.
Hoje é Domingo!
quarta-feira, outubro 19, 2005
Início de leitura
He was very admired indeed. "He is as beautiful as a weathercock," remarked one of the Town Councillors who wished to gain a reputation for having artistic tastes; "only not quite so useful," he added, fearing lest people should think him unpractical, wich he really was not.
Wilde, Oscar in The Happy Prince and Other Stories
Hoje o dia começou cedo (demasiado para mim) mas deu para:
- seguir o nascer do sol ao longo da marginal, naquela luz tão própria de lisboa
- as aulas correrem sem atrasos (e com testes)
- a apresentação "informal" que até nem correu mal
- rezar o terço no metro (e perceber o olhar divertido de uma senhora com um daqueles pequenos nadas)
- almoçar qualquer coisa no café da esquina e ouvir um bom dia simpático (eu disse que era pela minha virgindade, diz uma senhora já de alguma idade, e ele acreditou, e o senhor encavacado, as senhoras são sempre simpáticas, os homens é que não.. outros tempos)
- trabalhar mais um pouco (podia ter sido mais)
- caminhar até ao loreto (e perceber o olhar para o alto de um pobre no banco)
- a missa com a surpresa de uma presença (nos mais pobres dos pobres)
- apanhar o metro e chuva (e não apanhar o cinema que apetecia)
- apanhar o carro e trânsito
- chegar a casa e jantar e respirar baixinho depois do barulho
- descansar.
Hoje foi assim
segunda-feira, outubro 17, 2005
Um novo membro que ainda vai demorar - naturalmente - o seu tempo até poder impor algumas mudanças. Velhos membros bem intencionados mas com aquela ingenuidade de quem acha que a formação da pessoa quase que se pode reduzir a power-points tão lindos (sim, exactamente os mesmos clichés daqueles emails reenviados 148 vezes e que apagamos sem ler).
E que pensam o possível avanço da caminhada de um adolescente em função de "ser bom menino, que os pais até vêm à missa e tudo."
E é como se andasse a falar para uma parede. E ao fazê-lo sozinha, ainda acabo por me convencer que estou simplesmente a ser arrogante. O problema é que desta vez não acho mesmo que seja esse o caso.
- E sim, também sei que ainda é pior fazer "queixinhas" assim, e esta falta de perseverança e caridade.
É como disse. Ando irritada...
domingo, outubro 16, 2005
Hoje é Domingo
A face da moeda
coloco-me o objectivo:
é preciso limpar a moeda
procurar revelar a sua face
ver quem me marca
(quantas vezes eu pensei tatuar-me para me lembrar
e como é confuso perceber-me tatuada por dentro
com os estigmas que não pedi)
tenho esperança
em tamanho pequeno mas tenho-a
obrigo-me (e obrigas-me) à solidão corrosiva
peço-Te que desapareça o lixo que me enoja quando Me olhas
peço que consiga levantar os braços e levantar-me por dentro
e caminhar na misericórdia
para dar o que é devido a quem de direito
para me dar inteiramente a Quem não me nega
hoje é Domingo
sábado, outubro 15, 2005
Teresa de Jesus
Nome de Guerra - Almada Negreiros
"Não! é indispensável evitar que a nossa união nada nos ensine para
amanhã. É preciso que nós dois reconheçamos, ela e eu, que o nosso amor vai a
ponto de darmos as mãos para nos despedirmos como amigos até à morte. Dois
verdadeiros amigos que se enganaram e começaram erradamente por serem amantes... "
mais à frente
Embaralhou-se tudo na cabeça e no coração. Não queria nada por
causa dela. Saber o que queria, mostrar que tinha força, ser homem, era tudo por
causa dele e nada por causa dela. Por conseguinte, a sua intimidade para com ela
era desumana: aprendia com ela a ser homem, a ter força, a saber o que queria,
para ir escolher outra mulher! ao passo que a Judite aprendia com ele a saber
estar com ele e não para ir depois melhor para a companhia de outro.
e ainda mais à frente
A Judite virou mais o corpo para ficar bem de frente para o
Antunes. Sem olhar para o maço de notas, fixou os olhos de perto nos de Antunes
e disse-lhe, como se estivesse escrito nos livros:
- Luís, tu não gostas de mim!
quase no fim
Mas a vista era o melhor do quarto. Daquela água-furtada seguia-se
o Tejo por aí acima, desde o mar até perder-se à esquerda. (...) Mas o
verdadeiro merecimento deste novo quarto para o Antunes consistia em que tudo o
que a ele tinha acontecido até esta água-furtada era para rasgar.
dizem-me "Deus fala, não é?" ... digo "às vezes grita!"
em fátima, rezar a paz!
domingo, outubro 09, 2005
Pedro e Inês
(...) Não se espere porém que Olga Roriz nos proponha uma narrativa linear, tendo antes optado por uma leitura estilhaçada, com uma multiplicação das personagens e dos pontos de vista, procurando alcançar um clima onírico violento (...).Inês de Castro
Antes do fim do mundo, despertar,Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
E o aceno do amado que há-de vir...
E mostrar-lhe que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura:
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.
E pedir-lhes, depois fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês...
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.
Miguel Torga
A obra surgirá aliás em coerência com anteriores criações de Olga Roriz, que explorou com uma gestualidade de cariz expressionista a conflituosidade implícita nos amores fatais, quando os corpos reinventam em movimentos dolorosos as emoções que deles travasam.(...)
José Sasportes
... apaixonante! belo, intenso e apaixonante!
começo a gostar muito da Companhia Nacional de Bailado
sexta-feira, setembro 30, 2005
olhar
Tudo se resume a compreender que os nossos olhos de carne são já muito mais do que receptores para as luzes, as cores e as linhas: compiladores do mundo, que tem o dom do visível, tal como se diz que o homem inspirado tem o dom das línguas.
Merleau-Ponty, O Olho e o espírito
terça-feira, setembro 27, 2005
hoje foi assim
chegar em sardinha ao chiado
beber uma bica à esquina
trabalhar
almoçar "em cantina"
encontrar o museu procurado
- ah! (boa) arte portuguesa, como me anima!
conversar
passear
atravessar
entrar
rezar
celebrar
descer
recolher
e esperar...
- todas as pinturas e muitas mais no museu do chiado
domingo, setembro 25, 2005
encontros
e percebemo-nos ligados
mesmo quando nunca nada aconteceu
há um pedaço de ti que é meu
... tenho saudades dos tempos violentos que nunca vivi.
Karl Schmidt-Rottluff, Drei Frauen am Meer, 1919, Öl auf Leinwand
sábado, setembro 17, 2005
pausa
o Sapato
era uma vez
uma princesa normal
tinha brilho talvez
mas nada de especial
desde pequena que achava
uma chatice comprar sapatos
aqueles que ela gostava
não davam com todos os fatos
mas o problema principal
era a questão do tamanho
nem sempre o ideal
muitas vezes tacanho
sapatos largos poucos foram
mas os pequenos excederam-se
dizia que eles demoram
a dar-se, a fazerem-se.
uma manhã saiu à procura
encontrou uns azul mate
e quase com doçura
mandou pô-los de parte
ora, foi grande a surpresa
quando começou a perceber
que aquela grande beleza
tinha algo a esconder
ao início passeava com eles
e iam a todos os lugares
mas uma princesa exige deveres
e eles queriam outros ares
e mistério maior surgiu
quando começaram a apertar
coisa que ela já viu
um par de sapatos a desertar
frente ao espelho a perguntar
qual seria a razão
olha para os pés a andar
e compara o tamanho no chão
surpresa grande quando
finalmente percebeu
os pés foram aumentando
não o sapato que encolheu
e a fada do passado
disse os truques dos sapatos
depois do pé cansado
é que os sapatos são comprados
depois de experimentado
é que os sapatos são levados.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Alemanha - percursos de regresso (2)
Hildelberg
No percurso da noite fomos subindo o monte
E não nos detivemos com portas fechadas
O padre conduz-nos, vamos em frente.
No escuro da noite rodeámos muralhas
E não nos perdemos a olhar a cidade
O padre conduz-nos, vamos chegar.
No silêncio da noite ouvimos barulhos
E não pensamos em ter medo sozinhos
O padre conduz-nos, coragem!
No fim da noite chegámos à Porta
E atravessámos fossos e valas
O Padre conduz-nos, estamos no lugar.
______
Hildelberg é uma cidade universitária à semelhança da nossa Coimbra.
Bonita, tem um castelo enorme em ruínas que subimos durante a noite.
Nada de muito especial, sem fotos, fica uma imagem do google para terem a ideia do româaaantico que isto é..
Alemanha - percursos de regresso
1. Medieval Românico
Mosteiro
Senhor, queria entrar
Na casa onde Tu estás
Sempre à espera de dar
O Teu peito para repousar.
Pelo silêncio da Paz
Pelo silêncio do lugar
Senhor onde Tu estás
Deixa-me também entrar.
____
Maria Laach fica à beira de um lago com este nome.
Mosteiro beneditino que já passou por muitas mãos
O mais bonito? O silêncio da capela do Santíssimo
A riqueza do baldaquino sobre o altar.
Ficam as fotos.
terça-feira, setembro 13, 2005
comparações?
torna-se um problema para muitos
"ah se fosse tal pessoa à frente disto"
"ah aquela pessoa x é tão pessoa y"
"ah no tempo do outro"
mas comparar o quê
se
a realidade é bem mais simples:
um passado enraizado nas vidas das pessoas
um futuro a assumir contornos
enquanto isso vivamos o presente!
entre o gótico e a verdade
Alemanha
por mim, não era essa a vontade.
mas fui
para não me confrontar com o vazio de objectivos:
vou pela arte, pessoas
vou por mim
não pelo Papa
nem por Deus.
viagem longa,
chegámos a uma paróquia simpática
onde o padre simpático
nos acolheu muito bem.
muitos jovens..
"és a jovem que viemos acompanhar às jornadas"
sim, sou a pequena
sempre fui
- 1º dia, caminhada até marienfield
visto as roupas do serviço e atiraram-me à cara aquilo que atirei à cara de outros
egocêntrica!
simples, tu tens uma pedagogia simples e dura
queres outra vez que esteja agarrada à cruz
(foi por isso a madalena?)
e eu endureci por dentro ainda mais
e segui sozinha
pelos campos cheios de gente
como uma nova "reconquista".
a tarde em marienfield
foi de discussão
de atirar pedrinhas
daquelas pequeninas
que fazem um estalido ao cair no chão
no final desenhei com elas uma flor
mas para evitar romantismos alguém a pisou sem dar conta
palavras-chave: fidelidade e obediência
frase-chave: deixa-te de tretas, o teu Deus é um Deus de silêncio
- noite de vigília
ter uma luzinha nas mãos
ganhar um novo alento
aceitar dobrar os joelhos mesmo quando não percebo
"Entrando na casa viram o Menino com Maria, Sua mãe.
Prostrando-se, adoraram-n'O" Queridos amigos, esta não é uma história distante,
que se verificou há muito tempo. Ela é presença. Aqui na hóstia sagrada Ele está
diante de nós e no meio de nós. Como então, vela-se misteriosamente num santo
silêncio e, como então, precisamente assim revela o verdadeiro rosto de Deus.
Ele fez-se para nós grão de trigo que cai na terra e morre para dar muito fruto
até ao fim do mundo. Ele está presente como naquela época estava presente em
Belém. Convida-nos para aquela peregrinação interior que se chama adoração.
Coloquemo-nos agora a caminho para esta peregrinação e peçamos-Lhe que nos guie.
in Discurso da Vigília em
Marienfeld
no final um encontro a lembrar Roma2000 com um amigo
como foi bom saber que há amizades verdadeiras
como foi bom dançar na roda
e levantar os braços e louvar a Deus
- manhã em Marienfeld
pedir que O que não é amado o seja
pedir que o meu coração se transforme
esperar que se faça história
Nós próprios devemos tornar-nos Corpo de Cristo, seus
consaguíneos. Todos comemos o único pão, mas isto significa que entre nós nos
tornamos uma só coisa. A adoração, dissémos, torna-se união. Deus já não está só
diante de nós, como o Totalmente Outro. Está dentro de nós, e nós estamos n'Ele.
A sua dinâmica penetra-nos e de nós deseja propagar-se aos outros e difundir-se
em todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do
mundo
in Homilia da Missa em Marienfeld
começar o regresso...
quinta-feira, setembro 08, 2005
pensar?
Face ao incremento da complexidade, precisamos, mais do que nunca, de um
pensamento simplificador; mas que não seja mutilante.
Edgar Morin
está quase o resumo de alemanha... ou não?
Natividade
De gentes simples, obscuras,
Foi como se a Lua Cheia
Enchesse de ouro as alturas.
Para breve o relato de Alemanha..
quinta-feira, agosto 18, 2005
A presença separada
Sobre a escultura de Giacometti
bronze (1959-1960)
segunda-feira, agosto 15, 2005
Assunção da Mulher
não temas não olhes segue!
corre mais, corre
chega ao lugar que te sossegue
vai mulher, salta
levanta mais alto as mãos
salta alto, salta
mete de parte pesos vãos
vai mulher, grita
geme como quem dá à luz
grita ao mundo, grita
que te oiça quem te seduz
vai mulher, cresce
não tenhas medo da solidão
segue o deserto, segue
rasga por dentro o coração
levanta-te mulher
apanha as migalhas e caminha
levanta o corpo e entrega-o
levanta o cálice e derrama-te
vai mulher
ama
Assunção da Virgem
... do Hino Akathistos
A ti, Maria, como a general invencível, meus cantos de vitória!
A ti, que me livraste de meus males, ofereço meus cantos de reconhecimento.
Pois que tens uma força invencível, livra-me de toda espécie de perigos, a fim de que te aclame: Ave, Virgem e esposa!
Desejava a Virgem entender o mistério, e ao divino mensageiro pergunta:
Poderá uma virgem dar à luz um menino?
sábado, agosto 13, 2005
caminho de infância..
...quando supostamente queremos crescer
(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...
O Menino Grande (excerto), Sebastião da Gama em Itinerário Paralelo, 1952
recortes de uma colónia
mãozinhas pequeninas que nos tocam terapeuticamente
e do toque da pele chegam ao coração da alma
suavizamos
pela contemplação com as crianças
das pequenas coisas
simples
como as conchas do mar
olhar o mundo com os olhos grandes
olhar a vida com a esperança de quem está no início
e confiar em quem nos guarda
longe dos pesadelos
quem nos dá um colo
chorar e rir porque a fala é tão complicada
conhecer vendo e estando porque falar complica sempre
esperar as surpresas
crescer nas correcções
birras amuos
personalidades já tão vincadas
e partindo das carências tantos tantos tesouros
imaginar a maternidade..
_______________________
A Flor
- Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée. Je donne toute ma mesure, tous mes moyens. Et après, si ce que j'ai fait n'est pas bon, je n'en suis plus responsable; c'est que je ne peux vraiment pas faire mieux. Henri Matisse
Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutra; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essa linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, 1921
terça-feira, agosto 02, 2005
uma história do mar
a bruxa sozinha pensou no mar
e longe longe foi passear
chegou cedo a esse lugar
e ficou sossegada
talvez a descansar
na altura certa da falta de ar
levantou-se rápido a caminhar
quem diria o qu'ia encontrar
uma pedra rachada
com jeitos de brincar
surpresa! ela nem quis olhar
passou entre pessoas a passar
e a criança finge não notar
essa grande fachada
do querer (não) encontrar
a pedra ficou, olhava o mar
estava com outras talvez a gozar
a bruxa chegou e foi nadar
uma grande braçada
para não desesperar
voltava às vezes a esperar
que a pedra a (não) fosse procurar
o tempo passou e ela olhar
quebrou-se o nada
do real a regressar
meninos e meninas, não vão acreditar
mas as pedras são mestras no fazer lembrar
têm dentro os segredos
do tempo das bruxas
têm dentro os segredos
do fundo do mar
(mesmo que depois venham a apagar...)
sábado, maio 21, 2005
Recantos
Se me envolve a noite escura...
Terceiro banco da direita, junto ao corredor central. Cara enterrada nas mãos. Silêncio no coração, ao menos uns minutos na semana. Perdão, Pai. Obrigada, Filho. Permanece, Espírito.
...e caminho sob abismos de amargura...
Em cima do altar, o cálice, por agora inerte, por agora quotidiano, mas ainda assim sinal do Absoluto, do Amor.
...nada temo, porque a luz está comigo...
Amanhã a catequese. Ainda não peguei nas coisas. (Amor que impulsiona, Amor que não deixa parar, Amor que se dá.) Amanhã aqui de novo. Antes de começar, depois de acabar. E Ele no centro. Ou assim devia ser. Vai sendo, conforme o peso da alma e a entrega do coração.
...nada temo, porque a luz está comigo.
Boa noite, capela. - A paz, essa vem comigo para casa.
domingo, maio 01, 2005
Viver
"I - Fundamentalismo
Há pessoas que se agarram com unhas e dentes às ideias ou práticas que lhes dão segurança e identificam a fé com essas suas crenças. Não há espaço para o diálogo nem para a diferença. O que conta não é a palavra viva de Jesus mas a fidelidade à letra.
Não se dão conta que Deus é muito maior do que a nossa capacidade de O entender e por isso acham que há apenas uma verdade (a sua), que só se pode rezar de uma maneira (a "oficial"), que só há uma maneira de agir ("como manda a tradição").
No centro das suas vidas não está a fé em Deus vivo mas as ideias que têm sobre Deus.
Para eles a diferença é uma traição; o diálogo uma cedência; as coisas novas são uma degradação.
Quando falam insistem muito na fidelidade. Mas entendem-na como um cheque em branco passado às suas tradições e não como a busca apaixonada de encontro com o Senhor Jesus.
Falam de tradição e entendem-na como repetição do passado e não como fruto da criatividade que o Espírito Santo vai sugerindo à Igreja ao longo dos tempos.
Falam de obediência à autoridade e à lei como maneira de resolver todos os problemas, obrigando-nos a renunciar à nossa responsabilidade de pensar. Esquecem-se que obedecer é o esforço sempre renovado de ouvir a voz de Deus e de pôr o nosso coração em sintonia activa com a Sua Palavra.
Parecem ser os mais entusiastas na fé. Mas no centro das suas vidas não está o Deus revelado em Jesus Cristo e sim os seus hábitos, ideias e tradições."
sexta-feira, abril 29, 2005
quinta-feira, abril 28, 2005
AABA
a cantar perto da minha janela
- quando estava em sonhos cor-de-rosa -
felizes.
o problema são os gatos
a minha gata gosta de caçar
- é estranho acordar dos sonhos felizes -
e também das festas.
mas não vi a gata
devia estar a dormir
- às vezes gosto mais da realidade -
à porta.
não fui abri-la
não mexi nas fitas barulhentas
- da realidade que traz consigo esperança -
do reflexo de Pavlov.
terça-feira, abril 26, 2005
um café cheio, sff
Parece que às vezes é complicado
entre o estar e o não estar
entre o toque e a ausência
estar naquele ponto
tempo e espaço
e não tempo e não espaço
estar naquele suposto ponto do suposto equilibrio
ou da suposta paz.
Mas a paz é passageira,
esta pelo menos,
quando ainda não estou
completamente
totalmente
assente
com os pés no essencial.
Sem o eixo
sem a referência
(terão de ser duas, senão baloiça e baloiça
um lindo baloiço com duas crianças
ao menos não são dois adultos
seria ridículo!)
sem os dois referenciados
ao mesmo nível
da suposta estabilidade contínua.
Sem o eixo
central, que une dois pontos
sem o eixo essencial
ainda é difícil aquela paz que joga para sempre.
O mundo rasga-se
- sou só eu afinal, mania a minha -
que o véu se rompa
- que assim o seja sempre -
mas ainda não é tempo de paz
daquela deixada por quem não nos deixou
(não me deixaste à espera naquele tempo e espaço?
agora larga-me!
...ou prende-me
mas rápido e sem lugar!)
Chegaremos a esse dia
em que marcamos nas nossas vidas
o sabor (gosto e olfacto)
o sabor do sal
o sabor do "até que.."
até que um dia sejamos entregues nas mãos de quem não nos prende.
até esse dia
forço-me a esperar.
domingo, abril 24, 2005
Actualizar
- Habemus Papam e estou confiante: Bento XVI (eu não conhecia assim tanto sobre o Ratzinger, ele era para mim como o alemão de ferro que garantia a segurança do tesouro da fé) está a aparecer na minha vida como um homem de grande profundidade
- perceber as minhas contradições: quanto mais confiante mais tentada a fugir
- perceber os desafios: mergulhar na Misericórdia, mergulhar no Amor
- perceber os compromissos: reavivar o amor que se coloca nas pequenas coisas que se fazem
... (re)caminhar
O objectivo do meu pontificado não é cumprir a minha vontade, não é impor as minhas ideias, mas ouvir, em conjunto com toda a Igreja, o mundo e a vontade do Senhor
sábado, abril 02, 2005
Papa
Pai e Pastor da Igreja
A palavra Papa deriva da sigla latina retirada da designação Petri Apostoli Potestatem Accipiens (o que recebe o poder de Pedro) e da união das primeiras sílabas das palavras latinas “Pater” e “Pastor” (Pai e Pastor).
De acordo com o magistério da Igreja Católica, o Papa, como bispo de Roma, está na linha sucessória do apóstolo Pedro, de quem herda a missão de ser o vigário de Cristo na Terra e o primado da autoridade entre todos os bispos.
As designações do Sumo Pontífice, como Pai e Pastor, surgem no seio da Igreja como expressões da sua função protectora dos fiéis, por quem deve velar com atenção paternal, e pelo facto de biblicamente Pedro ter recebido o encargo de cuidar do rebanho da Igreja – forma tradicional de designar a comunidade dos fiéis.
(...)
in Público
domingo, março 27, 2005
segunda-feira, março 21, 2005
Três
Poeta o que é?
Um homem que leva
o facho da treva
no fundo da mina
- mas apenas vê
o que não ilumina.
II. Sophia de Mello Breyner Andresen
Escrita do poema
A mão traça no branco das paredes
A negrura da letra
Há um silêncio grave
A mesa brilha docemente o seu polido
De certa forma
Fico alheia
III. Sebastião da Gama
O Poeta
II
Tudo ganhou sentido num momento...
Água mansa com choupos reflectidos,
teu olhar descansava no do Poeta;
a poesia das coisas sem Poesia,
que no olhar do Poeta dormitava,
de súbito nas coisas acordava
- tão natural, tão íntima, tão própria,
como se fora delas que nascera...
dia mundial da poesia
Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da Poesia. Isso fica para os críticos e os professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia.
Aqui está, olha. Tenho o fogo em minhas mãos.
Federico Garcia Lorca
sábado, março 19, 2005
Jardim
Imagino que tenha nascido do improviso, duas ou três flores numa lata a fazer de vaso, ou directamente na terra, com uma cerca mais simbólica que eficazmente protectora. Acho que é exactamente a sua simplicidade que me cativa, a dedicação que ali se adivinha, alguém decidir fazer crescer um jardim num sítio tão insuspeito quanto talvez inusitado.
Ao fim da tarde, à medida que as sombras crescem e invadem o espaço – é sempre um dos primeiros sítios a ser invadido por ela – instala-se aquela quietude que antecede a noite, já depois do sol posto. Tudo convida ao silêncio: os sons da cidade ficam mais distantes, as vozes mais difusas. Permanece o som do vento nos ramos das oliveiras que por lá há, sente-se mais o cheiro das flores, as buganvíleas, as sardinheiras, o alecrim parecem crescer, arrepia-se a pele com o fresco do ar - à medida que os olhos mergulham no escurecer, o resto dos sentidos desperta para a suavidade das coisas.
Quando subo do jardim o mundo cá em cima espanta: lá ao fundo da cidade, por trás da serra, ainda há afinal raios de sol a dourar o céu e as coisas, a entrar pelos olhos dentro, e os sentidos submergem no barulho da cidade a funcionar, das pessoas que regressam a casa, das crianças nas últimas brincadeiras.
O mundo segue o jardim no caminho para o anoitecer, as sombras sobem pelos prédios e os sons reduzem-se a sussurros.
Entretanto, o jardim já dorme.
segunda-feira, março 14, 2005
5º Domingo
Matinas do sábado de Lázaro
Porque eras Deus verdadeiro, tu conhecias, Senhor, o sono de Lázaro e preveniste os teus discípulos...
Mas na tua carne, Tu, que no entanto não tens limites, vens até Betânia.
Chorando sobre o teu amigo, na tua compaixão puseste fim às lágrimas de Marta;
pela tua Paixão voluntária, secaste todas as lágrimas do rosto do teu povo (Is 25,8).
"Bendito sejas, Deus de nossos Pais!" (Esd 7,27).
Quanto a mim, estrangulado pelas amarras dos meus pecados, ergue-me também e eu cantarei:
"Bendito sejas, Deus dos nossos Pais!"...
Como mortal, invocas o Pai;
como Deus, despertas Lázaro.
Tu andas, falas, choras, meu Salvador, mostrando a tua natureza humana;
mas, ao despertares Lázaro, revelas a tua natureza divina.
De uma maneira indizível, Senhor, meu Salvador, de acordo com as tuas duas naturezas e de uma forma soberana, realizaste a minha salvação.
quinta-feira, março 10, 2005
Escuto
Se o que ouço é silêncio
Ou Deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco
Sophia de Mello Breyner Andresen
domingo, março 06, 2005
4º Domingo
Contra as Heresias
Quando se tratou do cego de nascença, não foi só por uma palavra mas por uma acção que o Senhor lhe concedeu a vista. Não agiu assim sem razão nem por acaso, mas para que conhecêssemos a Mão de Deus que, no princípio tinha modelado o homem. Por isso, quando os discípulos lhe perguntaram de quem era a culpa deste homem ser cego, dele mesmo ou dos seus pais, o Senhor declarou: "Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus". Estas "obras de Deus" são, primeiro que tudo, a criação do homem que a Escritura bem descreve como uma acção: "E Deus tomou um pouco de argila e modelou o homem" (Gn 2,7). Foi por isso que o Senhor cuspiu no chão, fez lama e ungiu os olhos do cego. Mostrava assim de que modo se tinha realizado a moldagem inicial e, para aqueles que eram capazes de compreender, manifestava a Mão de Deus que tinha esculpido o homem a partir da argila...
E porque, nesta carne modelada em Adão, o homem tinha caído na transgressão e precisava do banho do novo nascimento (Tt 3,5), o Senhor disse ao cego, após ter-lhe untado os olhos com a lama: "Vai lavar-te à piscina de Siloé".
Concedia-lhe assim ao mesmo tempo a remodelagem e a regeneração operada pelo banho. Desta forma, depois de se ter lavado, "ele regressou, vendo bem", a fim de reconhecer aquele que o tinha remodelado e aprender ao mesmo tempo quem era o Senhor que lhe tinha dado a vida...
Assim, aquele que, no princípio, tinha modelado Adão e a quem o Pai tinha dito: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança" (Gn 1,26), esse mesmo se manifestou aos homens no fim dos tempos e remodelou os olhos deste descendente de Adão.
quinta-feira, março 03, 2005
Confio, por isso sou livre?
Esta necessária compreensão de que se fala não passa por tentar escrutinizar os desígnios de Deus, nem se trata de um contrato que só assinamos depois de ter a certeza que todas as cláusulas estão ao nosso gosto. Tal como diz Edith Stein, "Tais condições não se inscrevem num contrato com o Céu. A confiança em Deus será apenas inquebrantável se se está disposto a aceitar tudo o que venha da mão do Pai. Só ele sabe o que nos convém. E se forem mais convenientes a necessidade e a privação (...) então devemos estar prontos para aceitar também isso."
A questão é de Amor. Se nos sentimos filhos amados do Pai, sabemos com verdade que ele só nos reserva o melhor para nós. Sabemos igualmente que o que isso é, Ele o sabe melhor que ninguém - confiamos na Sua Sabedoria, que tem o Amor na sua base, mais uma vez.
Falar de confiança, falar de obediência, não faz sentido se não houver antes a experiência de se sentir verdadeiramente amado por Aquele que nos pede que o sigamos.
Por outro lado, essa experiência de Amor depende da própria confiança que se tem: é ao entregar-me nas mãos de Deus, ao viver pelos Seus desígnios, que me vou apercebendo para onde Ele me leva, que vou descobrindo que há um plano feito pelo Pai para cada um de nós.
Seguir o caminho que Ele nos propõe é um exercício considerável de humildade. Não só discordamos imensas vezes de Deus quanto ao que achamos ser o melhor para nós, como nos custa a ideia de não ser auto-suficiente, de a minha auto-realização necessariamente não passar apenas por mim. Aí a Vontade de Deus deixa de surgir como plano amoroso de um Pai que me guia, e passa a voz autoritária que me impede de caminhar por mim mesma. E o maior choque passa, no fim, não tanto pela ideia de perda de "auto-suficiência", mas pelo reconhecimento de que o caminho indicado é efectivamente o melhor possível, o que se torna trágico se isso se afigura como um ultimato, fora do qual a felicidade sempre me escapará.
"O meu coração está inquieto enquanto não repousar em Deus", diz Santo Agostinho, apontando-nos algumas pistas. A reconciliação chega pois pela descoberta de uma nova dimensão da minha vida: já não a vejo como algo determinado por uma vontade completamente alheia a mim, mas como um caminho em que Criador e criatura caminham lado a lado para um mesmo fim. Descubro que sou feita para Deus e que a Ele aspiro, qualquer que seja a minha personalidade e a vida que levar - o plano de Deus para mim não é pois senão a "via-rápida" que Ele me oferece para lá chegar.
Caminhar pela estrada que Ele me propuser pode ser uma experiência de profunda inquietação - os caminhos que Deus propõe podem ser inesperados e completamente diferentes das nossas aspirações pessoais. Mas é através deles que me descobrirei a mim mesma da melhor maneira possível, e que encontrarei a plenitude, em última análise, na descoberta desse Amor como vocação maior do Homem.
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
(A jeito de comentário mas não só)
É tempo de ser humilde e recomeçar o caminho para a Fonte.
(E o salmo dizia:
Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações
Digo que Sim.)
domingo, fevereiro 27, 2005
3º Domingo
A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.
O Evangelho garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva .
in www.agencia.ecclesia.pt
______
Se eu conhecesse o dom que Deus tem para dar e Quem é que me diz: 'dá-Me de beber'..
______
Mario Sironi: Christ and the Samaritan woman (1947)
terça-feira, fevereiro 22, 2005
Antero de Quental
A inspiração e o pensamento são dois eternos combatentes que o Homem mandou à conquista do mundo: diferentes são as armas: mas no pendão de ambos está gravada esta mesma legenda: Verdade."
Especifica Antero que Verdade é a Beleza, muito para "além da Ideia [ciência] e para além de Deus". Vejo nela um veículo possível para a Verdade, não a Verdade em si, mas deixe-se cair "Beleza" (enquanto valor absoluto) e deixe-se ficar "Verdade", e temos palavras acertadas. Substitua-se "Verdade" por Deus e mais acertadas ficam?
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
2º Domingo
Sermão sobre a Transfiguração
«Este é o meu filho muito amado, no qual pus todo o meu amor»
Ele conduziu-os ao cimo da montanha para lhes mostrar a glória da Sua divindade, e lhes dar a saber que Ele era o Redentor de Israel, como o havia mostrado pelos Seus profetas...
Eles tinham-nO visto comer e beber, cansar-se e descansar, adormecer e dormir, suportar o terror até às gotas de suor, tudo coisas que não pareciam nada em harmonia com a Sua natureza divina e só convir à sua humanidade. Eis a razão pela qual os conduziu à montanha, a fim de que o Pai Lhe chamasse Seu Filho e lhes mostrasse que Ele era mesmo Seu filho, e que era Deus.
Conduziu-os à montanha e mostrou-lhes a Sua realeza antes de sofrer, o Seu poder antes de morrer, a Sua glória antes de ser ultrajado e a Sua honra antes de sofrer a ignomínia. Assim, logo que fosse preso e crucificado, os Seus apóstolos compreenderiam que não o fora por fraqueza, mas por consentimento e de bom grado, pela salvação do mundo.
Conduziu-os à montanha e mostrou-lhes, antes da Sua ressurreição, a glória da Sua divindade. Assim, logo que ressuscitasse de entre os mortos na glória da Sua divindade, os Seus discípulos reconheceriam que não recebia essa glória em paga da Sua dor, como se disso precisasse, mas que ela Lhe pertencia desde antes dos séculos, com o Pai e junto do Pai, tal como Ele próprio diz quando a sua Paixão voluntária se aproxima: «Pai, glorifica-me com a glória que tinha junto de Ti, antes do princípio do mundo» (Jo 17,5).
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Finitude
Só mesmo o Homem para ver um inimigo no Tempo, na sua cadência certa e infalível que nos poderia sossegar, assegurando-nos que o mundo não sai do seu eixo, e que no meio do devir constante há algo que permanece - nem que seja a própria mudança. Deve ser porque sofremos cronicamente do sentimento de que o nosso tempo na terra é pouco - afinal, não me posso esquecer que a morte caminha sempre ao nosso lado, mesmo que distraídos crónicos como eu raramente tomem consciência de tal companhia.
Para muitos é a descoberta da escassez do (seu) tempo, o confronto com a sua própria finitude que os lança para o mundo com urgência e entusiasmo. (Antes, lançavam-se com uma urgência e entusiasmo bem mais leves, que não precisavam de tão pesado "fantasma" como ignição. - Antes eram crianças, descubro.)
Não gosto desse entusiasmo que nasce de um ultimato e se alimenta da angústia fina que se agarra à alma, aproveita-agora-que-amanhã-já-cá-não-estás. Não gosto de ultimatos e não gosto que me apressem.
De igual modo me irritam esses anti-heróis existenciais que gritam a ousadia de caminhar de braço dado com a morte e a coragem de viver com o desencanto e dele fazer forças. Para lá da capa de lucidez, é um heroísmo que nasce do medo e que dele se alimenta. Tenho medo de muitas coisas, até mais do que pode ser sensato, mas não quero fazer do medo uma vocação.
Sou "fã do Absoluto". Talvez por isso tendam a passar-me ao lado tais angústias: numa mistura de optimismo e ingenuidade, e alguma mania para achar "Poesia" em tudo e mais alguma coisa, não seria difícil acusar-me de não ver a realidade.
Por outro lado, o conceito de Fé esclarecida é-me tanto querido quanto difícil - a parte do "esclarecida" tem tendência a sobrepor-se e sou rápida a reclamar.
Somos nós assim, uma mistura de docilidade e teimosia que nos faz insurgir contra o nosso tempo mas receber com uma passividade às vezes quase criminosa o que ele nos dá, sem olhar com olhos de ver e mãos de fazer.
Somos nós assim, lutando por uma lucidez que nos faça sentir inteligentes e donos das nossas escolhas mas que fale do Absoluto.
Lua
Ricardo Reis
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14-2-1933
a lembrar a Lua sobre o rio..
a lembrar as pessoas que não são "pessoinhas"..
domingo, fevereiro 13, 2005
1º Domingo
Comentário
Temos de recordar a forma como o primeiro Adão foi expulso do Paraíso para que a nossa atenção se fixe na forma como o segundo Adão (1 Co 15,45) regressa do deserto ao Paraíso.
Com efeito, vemos que a primeira condenação é desfeita da mesmo forma que tinha sido feita e que os benefícios divinos são restabelecidos sobre as marcas dos antigos.
Adão vem de uma terra virgem, Cristo vem da Virgem;
aquele foi criado à imagem de Deus, este é a Imagem de Deus (Col 1,15);
aquele foi colocado acima de todos os animais sem raciocínio, este acima de todos os seres vivos.
Por uma mulher veio a loucura, por uma virgem a sabedoria;
a morte veio de uma árvore, a vida veio pelo cruz.
Um deles, despido do vestuário espiritual, teceu uma veste com folhas de árvore; o outro, despido do vestuário deste mundo, nunca mais desejou uma veste material (Jo 19,23).
Adão foi expulso para o deserto, Cristo volta ao deserto, porque sabia onde encontrar o condenado que traria de novo ao Paraíso, liberto da sua falta...
Como é que, sem guia, poderia encontrar no deserto o caminho perdido, aquele que, por não ter guia, tinha perdido no Paraíso o caminho que seguia?
Ali, as tentações são muitas, o esforço em ordem à virtude é difícil e é fácil tropeçar no erro...
Sigamos então a Cristo, conforme está escrito:
"Caminharás após o Senhor teu Deus e ligar-te-ás a Ele" (Dt 13,4)...
Sigamos então os seus passos e poderemos regressar do deserto ao Paraíso.
A humildade, a sede e coisas esquecidas
A precipitação é sinónimo de chuva... e a chuva faz falta à terra ressequidadiz a Milene.
A minha alma é como terra ressequida sem água, pois assim como não se pode iluminar, assim também por virtude própria não se pode saciardiz Santo Agostinho.
Tentar lembrar-me como é que isso se faz, saltar para as coisas sem questionar certezas e com um entusiasmo adolescente.
Precipitar-me para a água. Reconhecer-me terra.
(Eu isso até reconheço - é admitir a necessidade de ser "regada" por outrem que me deixa às voltas.)
Mentalizar-me que primeiro vem a Fé e só depois os porquês.
(Porquê, se a Fé nasce das perguntas?)
Ter fé na fé.
(Que fácil foi dizê-lo aos meus adolescentes da catequese com ares de grande professora!)
Ter fé na fé.
Banho pela manhã
vai-se sempre aos mesmos lugares comuns..
o que eu espero da eleição do futuro Papa?
que seja feita segundo a vontade de Deus, à luz do Espírito
(para isso convém que reze mais do que entrar em "filosofias" ou "políticas")
graças a Deus, a Igreja não é democrática!
o que eu gostava de encontrar no futuro Papa?
um amor a Jesus e à Sua Esposa tão grande como o de João Paulo II, que se entrega totalmente nas mãos de Deus
e se eu fosse sacerdote?
eu, mulher, vejo-me tão feliz no lugar do Corpo de Cristo, no lugar da Esposa de Cristo que, ao contrário dos judeus, dou graças a Deus por Ele me ter feito assim, me ter colocado naquele lugar que me deixa contemplar Jesus, que me faz querer que Jesus "encarne" na minha vida, me tome para Si.