sábado, maio 21, 2005

Recantos

Há algures na cidade um cantinho. Só luz suficiente para iluminar a coluna com o disco dourado, com uma espiga de trigo trabalhada, por trás do qual Ele se esconde. Silêncio na casa. Jovens. "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome...".


Se me envolve a noite escura...


Terceiro banco da direita, junto ao corredor central. Cara enterrada nas mãos. Silêncio no coração, ao menos uns minutos na semana. Perdão, Pai. Obrigada, Filho. Permanece, Espírito.


...e caminho sob abismos de amargura...


Em cima do altar, o cálice, por agora inerte, por agora quotidiano, mas ainda assim sinal do Absoluto, do Amor.


...nada temo, porque a luz está comigo...


Amanhã a catequese. Ainda não peguei nas coisas. (Amor que impulsiona, Amor que não deixa parar, Amor que se dá.) Amanhã aqui de novo. Antes de começar, depois de acabar. E Ele no centro. Ou assim devia ser. Vai sendo, conforme o peso da alma e a entrega do coração.


...nada temo, porque a luz está comigo.


Boa noite, capela. - A paz, essa vem comigo para casa.

domingo, maio 01, 2005

Viver

Textos extraídos do guião de retiro para as minhas "miúdas" em preparação para a Confirmação.

"I - Fundamentalismo
Há pessoas que se agarram com unhas e dentes às ideias ou práticas que lhes dão segurança e identificam a fé com essas suas crenças. Não há espaço para o diálogo nem para a diferença. O que conta não é a palavra viva de Jesus mas a fidelidade à letra.

Não se dão conta que Deus é muito maior do que a nossa capacidade de O entender e por isso acham que há apenas uma verdade (a sua), que só se pode rezar de uma maneira (a "oficial"), que só há uma maneira de agir ("como manda a tradição").

No centro das suas vidas não está a fé em Deus vivo mas as ideias que têm sobre Deus.

Para eles a diferença é uma traição; o diálogo uma cedência; as coisas novas são uma degradação.

Quando falam insistem muito na fidelidade. Mas entendem-na como um cheque em branco passado às suas tradições e não como a busca apaixonada de encontro com o Senhor Jesus.

Falam de tradição e entendem-na como repetição do passado e não como fruto da criatividade que o Espírito Santo vai sugerindo à Igreja ao longo dos tempos.

Falam de obediência à autoridade e à lei como maneira de resolver todos os problemas, obrigando-nos a renunciar à nossa responsabilidade de pensar. Esquecem-se que obedecer é o esforço sempre renovado de ouvir a voz de Deus e de pôr o nosso coração em sintonia activa com a Sua Palavra.

Parecem ser os mais entusiastas na fé. Mas no centro das suas vidas não está o Deus revelado em Jesus Cristo e sim os seus hábitos, ideias e tradições."