sábado, agosto 13, 2005

recortes de uma colónia


mãozinhas pequeninas que nos tocam terapeuticamente
e do toque da pele chegam ao coração da alma
suavizamos
pela contemplação com as crianças
das pequenas coisas
simples
como as conchas do mar

olhar o mundo com os olhos grandes
olhar a vida com a esperança de quem está no início
e confiar em quem nos guarda
longe dos pesadelos
quem nos dá um colo

chorar e rir porque a fala é tão complicada
conhecer vendo e estando porque falar complica sempre
esperar as surpresas
crescer nas correcções
birras amuos
personalidades já tão vincadas
e partindo das carências tantos tantos tesouros

imaginar a maternidade..

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A Flor

- Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée. Je donne toute ma mesure, tous mes moyens. Et après, si ce que j'ai fait n'est pas bon, je n'en suis plus responsable; c'est que je ne peux vraiment pas faire mieux. Henri Matisse

Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutra; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essa linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, 1921

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