Pelo mistério do Verbo Encarnado,
nova luz da vossa glória brilhou sobre nós,
para que, contemplando a Deus visível aos nossos olhos,
aprendamos a amar o que é invisível.
segunda-feira, dezembro 26, 2005
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Advento do sim
nem todas as perturbações são más
«Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. (...)»
nem tudo é óbvio
«Como será isso, se eu não conheço homem?»
nem sempre a verdade basta por si
«O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.»
mas o sim é sempre possível
porque nada é impossível a Deus.
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.»
o sentido do acontecimento é sempre o mesmo: a salvação do mundo não vem do homem, da sua própria força; é preciso que o homem a acolha e apenas a pode receber como um dom gratuito.
Papa Bento XVI
domingo, dezembro 11, 2005
Advento de alegria
A alegria cristã não está dependente do capricho dos nossos estados de alma ou da maneira como corre a nossa vida.
Quem és tu?
quinta-feira, dezembro 08, 2005
imaculada
ouviu da mulher a solidão do engano
não ouviu a serpente.
disse que mulher e serpente iriam sempre lutar
não lutou contra a desconfiança humana.
esperou o crescer do tempo, dias ou anos
esperou a virgem puríssima
confiar um sim.
abençoai..
abençoai e santificai..
abençoai, santificai e consagrai!
ou
louvar...
louvar e bendizer...
louvar, bendizer e glorificar!
um dia gostava de subir esta escada..
domingo, novembro 27, 2005
Advento ou a importância de vigiar
vigiar implica silêncio
... não vá acontecer que por estar entretida em mim me distraia ...
o essencial é invisível aos olhos,
só se vê bem com o coração!
quarta-feira, novembro 23, 2005
25
- demorei a levantar-me da cama, arranjei-me com calma, cheguei atrasada (30min), comprei pequenas coisas (em tons rosa, a puxar para a menininha - hoje não era dia para cores fortes nem sisudas).
Foi um dia em que respirei fundo algumas vezes:
- no trânsito de manhã, nas aulas (nos momentos em que estava cansada e sem conseguir ensinar), na livraria em que não encontrei o livro que queria (quando me deixaram à espera), na missa (quando percebi a acusação da Palavra e a misericórdia do Pão), na saída da missa e com a família, nos telefonemas de mimo que não estou habituada a receber.
Foi um dia em que fiz coisas que realmente me sossegam e dão gozo:
- dar aulas, andar por lisboa na baixa (sim, compras! mas daquelas rápidas e objectivas como gosto), dar uma flor à minha mãe (que também me ofereceu flores), estar em adoração sossegada a conversar com Jesus, celebrar a missa com os amigos.
Foi um dia de sketchs cómicos:
- quando me esqueci que não estava com carro (ia já a caminho da garagem da escola para ir a uma reunião q tive de desmarcar)
- quando vi um aluno amuado depois de o ter repreendido e quando uma aluna mete conversa comigo "a professora ficou chateada com o que aconteceu, não foi?"
- quando comprei um alfinete na baixa e, quando partilhei a minha idade (o "amigo" disse-me "25 anos é mesmo uma boa idade, parece que ainda não somos gente mas já somos")
- quando me perguntam à saída da missa "onde almoçaste?" (não almocei..)
- quando me dizem "25?? bem, com as coisas que fazes, ninguém diria" e eu me sinto pequenina e contente por não ter o peso da idade.
Foi um dia em que mudo de quarto:
um já lá vai, venha o próximo se Deus quiser.. e que os amigos estejam para ver!
a amizade é como que um sacramento!
então, que se celebre! :)
segunda-feira, novembro 21, 2005
Hoje é segunda
Neste dia da dedicação da Igreja de Nossa Senhora, construída junto ao templo de Jerusalém, celebramos, juntamente com os cristãos do Oriente, aquela dedicação que Maria fez de si mesma a Deus, logo desde a infância, movida pelo Espírito Santo, de cuja graça tinha sido repleta na sua Imaculada Conceição.
... começa a última semana
Ontem foi domingo
Corporais
1ª Dar de comer a quem tem fome
2ª Dar de beber a quem tem sede
3ª Vestir os nús
4ª Dar pousada aos peregrinos
5ª Assistir aos enfermos
6ª Visitar os presos
7ª Enterrar os mortos
Espirituais
1ª Dar bom conselho
2ª Ensinar os ignorantes
3ª Corrigir os que erram
4ª Consolar os tristes
5ª Perdoar as injúrias
6ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo
7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos
Ontem foi domingo de Cristo-Rei
Ontem fui à sé de setúbal rezar junto das relíquias de Sta Teresinha
... e não achei nenhuma incoerência:
estava lá a Igreja peregrina (em que eu estou)
e a Igreja do Céu (em que ela está),
felizes aos pés do Rei.
e, este ano, Ele mostrou-me a a Sua Face de Misericórdia
(...) Quanto mais longe se estende um reino, mais ele abarca a universalidade do género humano, mais – é incontestável – os homens tomam consciência do elo mútuo que os une. (...) Se o reino de Cristo se estendesse, como ele de facto se estende, a todos os homens, porquê perder a esperança nesta paz que o Rei pacífico veio trazer à terra? Ele veio “reconciliar Consigo todas as coisas” (Col 1,20); “ele não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28). “Chefe de todas as coisas que há no céu e na terra” (Ef 1,20), Ele próprio deu o exemplo da humildade e fez da humildade, juntamente com o preceito da caridade, a sua lei principal. Disse ainda: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,30).
Pio XI (papa de 1922 a 1939) Encíclica Quas Prima, 1925
sexta-feira, novembro 18, 2005
Julgamento
expressão surreal dada ao real
levante-se a arguida!
Macke, mulher com casaco verde
e não é isso o que se pretende com a sanção? que lhe cause sofrimento a si e aos que a rodeiam?
... ou vai dizer-me que é a reinserção…?!
Giacometti, mulher com garganta cortada
Happy Phantom
And if I die today I’ll be the HAPPY Phantom And I’ll go chasin’ the nuns out in the yard _And I’ll run naked through the streets without my mask on And I will never need umbrellas in the rain I’ll wake up in strawberry fields every day And the atrocities of school I can forgive The HAPPY phantom has no right to bitch Oo who the time is getting closer Oo who time to be a ghost Oo who every day we’re getting closer The sun is getting dim Will we pay for who we been So if I die today I’ll be the HAPPY phantom And I’ll go wearin’ my NAUGHTIES like a jewel They’ll be my ticket to the universal opera There’s Judy Garland taking Buddha by the hand And then these seven little men get up to dance they say Confucius does his crossword with a pen I’m still the angel to a girl who hates to SIN Oo who the time is getting close Oo who time to be a ghost Oo who every day we’re getting closer The sun is getting dim Will I pay for who I been Or will I see you dear and wish I could come back You found a girl that you could TRULY love again Will you still call for me when she falls asleep Or do we soon forget the things we cannot see Oo who the time is getting close Oo who time to be a ghost Oo who every day we’re getting closer The sun is getting dim Will I pay for who I been And if I die today And if I die today And if I die today Chasin’ the nuns out in the yard
Tori Amos, Little Earthquakes
Duchamp, Estudo para jogadores de xadrez
Sôtora, tem mais alguma coisa a dizer?
... se tiver, ainda vou a tempo?
terça-feira, novembro 15, 2005
Banda Sonora
When you try your best but you don't succeed
When you get what you want but not what you need
When you feel so tired but you can't sleep
Stuck in reverse
And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone but it goes to waste
Could it be worse?
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
And high up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try you'll never know
Just what you're worth
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
Tears stream down your face
when you lose something you cannot replace
Tears stream down your face
And I
Tears stream down your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down your face
And I
Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you
Coldplay, X&Y
segunda-feira, novembro 14, 2005
Qualquer coisa de fim de dia não pontual
Roda de cores
ela subiu ao muro do Cais
e na altura em que subiu,
o céu começava a roda das cores
na procura da paleta certa.
no outro lado, a península
de planos rasos à água
recortados pelos prédios emaranhados,
a arrábida como pano de fundo
o rio une o que ele próprio separa
num ritmo rápido para chegar ao mar
- era impossível não termos partido
a corrente puxa-nos o olhar e a vontade!
mas ela não ia partir.
subiu ao muro para subir
dentro de si sem justificações,
num gesto simples e exterior.
ela subiu ao muro do Cais
ele subiu logo a seguir e deu-lhe a mão
e não sei se foi ataque romântico
mas o céu passou a encarnado nessa altura
domingo, novembro 13, 2005
Hoje é Domingo
... tive medo ...
Matemática do Reino
a questão não é contar sempre o que já dei e já recebi
e fazer a tabela da contabilidade
mesmo sem a marca da tesouraria
é grande a tendência de o fazer..
a questão não é contar os talentos
a questão e multiplicar sempre o que tenho
que pela minha parte eu esteja totalmente empenhada
e sem medo
volto ao mesmo
a questão é amar sempre
até ao máximo do meu coração
e mais!
percebê-lo rasgar-se
para acolher os talentos multiplicados
não tenhais medo de vos dar a Cristo! Ele não tira nada, dá tudo
Ontem foi sábado
"Salve Rainha" te repetimos nós, hoje, porque esperamos que nos conduzas a Cristo, fonte da Vida, porque te pedimos que nos ensines a amar com a simplicidade e radicalidade com que o teu coração de mulher se abriu ao amor, porque queremos confiar em Ti, deixar-nos atrair por Ti, porque nos abandonamos à Tua ternura maternal.
...foi inevitável a emoção!
ver Lisboa sair à rua para rezar a Nossa Senhora,
ver a imagem tão no coração da cidade,
perceber que Nossa Senhora também vai descendo devagarinho aos nossos corações...
terça-feira, novembro 08, 2005
Contexto, banda sonora, sequência e leitura..
... sento-me ao espelho e grito ..
Muito pouco
pronto
agora que voltou tudo ao normal
talvez você consiga ser menos rei
e um pouco mais real
esqueça
as horas nunca andam para trás
todo dia é dia de aprender um pouco
do muito que a vida trás
mas muito pra mim é tão pouco
e pouco é um pouco demais
viver tá-me deixando louca
não sei mais do que sou capaz
gritando pra não ficar rouca
em guerra lutando por paz
muito pra mim é tão pouco
e pouco eu não quero (mais)
chega!
não me condene pelo seu penar
pesos e medidas não servem
pra ninguém poder nos comparar
por que
eu não pertenço ao mesmo lugar
em que você se afunda tão raso
não dá nem pra tentar te salvar
... veja
a qualidade está inferior
e não é a quantidade que faz
a estrutura de um grande amor
simplesmente seja
o que você julgar ser o melhor
mas lembre-se que tudo o que começa com muito
pode acabar muito pior
Maria Rita, Segundo
.. sento-me ao espelho e grito ..
corro rápido na descida
chego e despejo
e peço peço peço
e recebo o encontro que me abençoa
volto e penso e penso
demais, já sei
quando vou à tua procura
não estás
.. sento-me ao espelho e grito ..
.. e paro de gritar porque há a certeza:
quem ama, corrige
Deixando às almas grandes, às grandes inteligências, os belos livros que não posso compreender, e ainda menos pôr em prática, regozijo-me por ser pequenina.
Sta Teresinha, carta 226 ao P. Roulland
domingo, novembro 06, 2005
Hoje é Domingo
Quem a busca desde a aurora não se fatigará, pois há-de encontrá-la sentada à sua porta.Livro da Sabedoria
terça-feira, novembro 01, 2005
no mês do Rei
foi ganhando peso na minha vida
crescendo
como uma missão entregue:
nasci no fim, e agora?
na lógica absurda
no fim procurar o infinito
este coração pequeno
com desejos fortes que o rasgam
tenta rasgar-se ainda mais
quase violentamente
excessivamente!
quando me olhas com desejo
de quem me espera desde sempre
mês da urgência de olhar pela memória
não pela janela onde me debruço demais
mas através da porta por onde quero entrar
oiço a festa no outro lado:
ainda não participo plenamente
mas sou chamada, no mistério.
uma ajuda
(...)
Celina, Deus não me pede já nada...
No princípio pedia-me uma infinidade de coisas. Pensei durante algum tempo, visto que Jesus não me pedia nada, que agora era preciso caminhar suavemente na paz e no amor fazendo somente o que Ele me pedisse... Mas tive uma luz.
Santa Teresa diz que é preciso alimentar o amor. A lenha não se encontra ao nosso alcance quando estamos nas trevas, na aridez, mas não estaremos ao menos obrigadas a lançar nele algumas palhinhas? Jesus é suficientemente poderoso para conservar sozinho o fogo, todavia fica contente por nos ver alimentá-lo, é uma delicadeza que Lhe agrada e então lança Ele no fogo muita lenha, nós não O vemos mas sentimos a força do calor do amor. Tenho feito disto a experiência, quando não sinto nada, quando sou incapaz de rezar, ou de praticar a virtude, é então o momento de procurar pequenas ocasiões, nadas que dão gosto, mais gosto a Jesus do que ao império do mundo ou mesmo do que o martírio sofrido generosamente, por exemplo, um sorriso, uma palavra amável quando teria vontade de não dizer nada ou de mostrar um ar aborrecido, etc., etc. Compreendes querida Celina?
Cta 143 A Celina, Sta Teresinha
Meio de Leitura, Banda Sonora e consequências
"Where is this King, who is apparelled like a beggar - this boy who brings shame upon our state? Surely we will slay him, for he is unworthy to rule over us"
And the young King bowed his head again, and prayed, and when he had finished his prayer he rose up, and turning round he looked at them sadly.
Wilde O, The Young King in The Happy Prince and Other Stories
Caminho das Águas
Leva no teu bumbar, me leva
leva que quero ver meu Pai
caminho bordado a fé
caminho das águas
me leva que quero ver meu Pai
a barca segue seu rumo, lenta
como quem já não quer mais chegar
como quem se acostomou no canto das águas
como quem já não quer mais voltar
os olhos da morena bonita
aguenta, que tô chegando já
na roda cantar com 'ocê
ouvir a zabumba
me leva que quero ver meu Pai.
Maria Rita, segundo
Novembro, mês do Rei
a barca vai lenta para que eu possa entrar.. mas com a esperança de chegar
domingo, outubro 23, 2005
Hoje é Domingo
Hoje encontrei-me com Carlos de Foucauld:
« L’amour est inséparable de l’imitation. Quiconque aime veut imiter : c’est le secret de ma vie. J’ai perdu mon cœur pour ce Jésus de Nazareth crucifié il y a 1.900 ans et je passe ma vie à le chercher et à l’imiter » .
« Il ne nous est pas possible de l’aimer sans l’imiter, de l’aimer sans vouloir être ce qu’il fut, faire ce qu’il fit, souffrir et mourir dans les tourments, il ne nous est pas possible de l’aimer et de vouloir être couronné de roses quand il l’a été d’épines »
Hoje reencontrei-me com Sta Teresinha:
Vivre d'Amour, c'est garder en soi-même Un grand trésor en un vase mortel Mon
Bien-Aimé, ma faiblesse est extrême Ah je suis loin d'être un ange du ciel !...
Mais si je tombe à chaque heure qui passe Me relevant tu viens à mon
secours, A chaque instant tu me donnes ta grâce Je vis d'Amour.
Hoje procuro a missão.
Hoje é Domingo!
quarta-feira, outubro 19, 2005
Início de leitura
He was very admired indeed. "He is as beautiful as a weathercock," remarked one of the Town Councillors who wished to gain a reputation for having artistic tastes; "only not quite so useful," he added, fearing lest people should think him unpractical, wich he really was not.
Wilde, Oscar in The Happy Prince and Other Stories
Hoje o dia começou cedo (demasiado para mim) mas deu para:
- seguir o nascer do sol ao longo da marginal, naquela luz tão própria de lisboa
- as aulas correrem sem atrasos (e com testes)
- a apresentação "informal" que até nem correu mal
- rezar o terço no metro (e perceber o olhar divertido de uma senhora com um daqueles pequenos nadas)
- almoçar qualquer coisa no café da esquina e ouvir um bom dia simpático (eu disse que era pela minha virgindade, diz uma senhora já de alguma idade, e ele acreditou, e o senhor encavacado, as senhoras são sempre simpáticas, os homens é que não.. outros tempos)
- trabalhar mais um pouco (podia ter sido mais)
- caminhar até ao loreto (e perceber o olhar para o alto de um pobre no banco)
- a missa com a surpresa de uma presença (nos mais pobres dos pobres)
- apanhar o metro e chuva (e não apanhar o cinema que apetecia)
- apanhar o carro e trânsito
- chegar a casa e jantar e respirar baixinho depois do barulho
- descansar.
Hoje foi assim
domingo, outubro 16, 2005
Hoje é Domingo
A face da moeda
coloco-me o objectivo:
é preciso limpar a moeda
procurar revelar a sua face
ver quem me marca
(quantas vezes eu pensei tatuar-me para me lembrar
e como é confuso perceber-me tatuada por dentro
com os estigmas que não pedi)
tenho esperança
em tamanho pequeno mas tenho-a
obrigo-me (e obrigas-me) à solidão corrosiva
peço-Te que desapareça o lixo que me enoja quando Me olhas
peço que consiga levantar os braços e levantar-me por dentro
e caminhar na misericórdia
para dar o que é devido a quem de direito
para me dar inteiramente a Quem não me nega
hoje é Domingo
sábado, outubro 15, 2005
Teresa de Jesus
Nome de Guerra - Almada Negreiros
"Não! é indispensável evitar que a nossa união nada nos ensine para
amanhã. É preciso que nós dois reconheçamos, ela e eu, que o nosso amor vai a
ponto de darmos as mãos para nos despedirmos como amigos até à morte. Dois
verdadeiros amigos que se enganaram e começaram erradamente por serem amantes... "
mais à frente
Embaralhou-se tudo na cabeça e no coração. Não queria nada por
causa dela. Saber o que queria, mostrar que tinha força, ser homem, era tudo por
causa dele e nada por causa dela. Por conseguinte, a sua intimidade para com ela
era desumana: aprendia com ela a ser homem, a ter força, a saber o que queria,
para ir escolher outra mulher! ao passo que a Judite aprendia com ele a saber
estar com ele e não para ir depois melhor para a companhia de outro.
e ainda mais à frente
A Judite virou mais o corpo para ficar bem de frente para o
Antunes. Sem olhar para o maço de notas, fixou os olhos de perto nos de Antunes
e disse-lhe, como se estivesse escrito nos livros:
- Luís, tu não gostas de mim!
quase no fim
Mas a vista era o melhor do quarto. Daquela água-furtada seguia-se
o Tejo por aí acima, desde o mar até perder-se à esquerda. (...) Mas o
verdadeiro merecimento deste novo quarto para o Antunes consistia em que tudo o
que a ele tinha acontecido até esta água-furtada era para rasgar.
dizem-me "Deus fala, não é?" ... digo "às vezes grita!"
em fátima, rezar a paz!
domingo, outubro 09, 2005
Pedro e Inês
(...) Não se espere porém que Olga Roriz nos proponha uma narrativa linear, tendo antes optado por uma leitura estilhaçada, com uma multiplicação das personagens e dos pontos de vista, procurando alcançar um clima onírico violento (...).Inês de Castro
Antes do fim do mundo, despertar,Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
E o aceno do amado que há-de vir...
E mostrar-lhe que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura:
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.
E pedir-lhes, depois fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês...
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.
Miguel Torga
A obra surgirá aliás em coerência com anteriores criações de Olga Roriz, que explorou com uma gestualidade de cariz expressionista a conflituosidade implícita nos amores fatais, quando os corpos reinventam em movimentos dolorosos as emoções que deles travasam.(...)
José Sasportes
... apaixonante! belo, intenso e apaixonante!
começo a gostar muito da Companhia Nacional de Bailado
terça-feira, setembro 27, 2005
hoje foi assim
chegar em sardinha ao chiado
beber uma bica à esquina
trabalhar
almoçar "em cantina"
encontrar o museu procurado
- ah! (boa) arte portuguesa, como me anima!
conversar
passear
atravessar
entrar
rezar
celebrar
descer
recolher
e esperar...
- todas as pinturas e muitas mais no museu do chiado
domingo, setembro 25, 2005
encontros
e percebemo-nos ligados
mesmo quando nunca nada aconteceu
há um pedaço de ti que é meu
... tenho saudades dos tempos violentos que nunca vivi.
Karl Schmidt-Rottluff, Drei Frauen am Meer, 1919, Öl auf Leinwand
sábado, setembro 17, 2005
pausa
o Sapato
era uma vez
uma princesa normal
tinha brilho talvez
mas nada de especial
desde pequena que achava
uma chatice comprar sapatos
aqueles que ela gostava
não davam com todos os fatos
mas o problema principal
era a questão do tamanho
nem sempre o ideal
muitas vezes tacanho
sapatos largos poucos foram
mas os pequenos excederam-se
dizia que eles demoram
a dar-se, a fazerem-se.
uma manhã saiu à procura
encontrou uns azul mate
e quase com doçura
mandou pô-los de parte
ora, foi grande a surpresa
quando começou a perceber
que aquela grande beleza
tinha algo a esconder
ao início passeava com eles
e iam a todos os lugares
mas uma princesa exige deveres
e eles queriam outros ares
e mistério maior surgiu
quando começaram a apertar
coisa que ela já viu
um par de sapatos a desertar
frente ao espelho a perguntar
qual seria a razão
olha para os pés a andar
e compara o tamanho no chão
surpresa grande quando
finalmente percebeu
os pés foram aumentando
não o sapato que encolheu
e a fada do passado
disse os truques dos sapatos
depois do pé cansado
é que os sapatos são comprados
depois de experimentado
é que os sapatos são levados.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Alemanha - percursos de regresso (2)
Hildelberg
No percurso da noite fomos subindo o monte
E não nos detivemos com portas fechadas
O padre conduz-nos, vamos em frente.
No escuro da noite rodeámos muralhas
E não nos perdemos a olhar a cidade
O padre conduz-nos, vamos chegar.
No silêncio da noite ouvimos barulhos
E não pensamos em ter medo sozinhos
O padre conduz-nos, coragem!
No fim da noite chegámos à Porta
E atravessámos fossos e valas
O Padre conduz-nos, estamos no lugar.
______
Hildelberg é uma cidade universitária à semelhança da nossa Coimbra.
Bonita, tem um castelo enorme em ruínas que subimos durante a noite.
Nada de muito especial, sem fotos, fica uma imagem do google para terem a ideia do româaaantico que isto é..
Alemanha - percursos de regresso
1. Medieval Românico
Mosteiro
Senhor, queria entrar
Na casa onde Tu estás
Sempre à espera de dar
O Teu peito para repousar.
Pelo silêncio da Paz
Pelo silêncio do lugar
Senhor onde Tu estás
Deixa-me também entrar.
____
Maria Laach fica à beira de um lago com este nome.
Mosteiro beneditino que já passou por muitas mãos
O mais bonito? O silêncio da capela do Santíssimo
A riqueza do baldaquino sobre o altar.
Ficam as fotos.
terça-feira, setembro 13, 2005
comparações?
torna-se um problema para muitos
"ah se fosse tal pessoa à frente disto"
"ah aquela pessoa x é tão pessoa y"
"ah no tempo do outro"
mas comparar o quê
se
a realidade é bem mais simples:
um passado enraizado nas vidas das pessoas
um futuro a assumir contornos
enquanto isso vivamos o presente!
entre o gótico e a verdade
Alemanha
por mim, não era essa a vontade.
mas fui
para não me confrontar com o vazio de objectivos:
vou pela arte, pessoas
vou por mim
não pelo Papa
nem por Deus.
viagem longa,
chegámos a uma paróquia simpática
onde o padre simpático
nos acolheu muito bem.
muitos jovens..
"és a jovem que viemos acompanhar às jornadas"
sim, sou a pequena
sempre fui
- 1º dia, caminhada até marienfield
visto as roupas do serviço e atiraram-me à cara aquilo que atirei à cara de outros
egocêntrica!
simples, tu tens uma pedagogia simples e dura
queres outra vez que esteja agarrada à cruz
(foi por isso a madalena?)
e eu endureci por dentro ainda mais
e segui sozinha
pelos campos cheios de gente
como uma nova "reconquista".
a tarde em marienfield
foi de discussão
de atirar pedrinhas
daquelas pequeninas
que fazem um estalido ao cair no chão
no final desenhei com elas uma flor
mas para evitar romantismos alguém a pisou sem dar conta
palavras-chave: fidelidade e obediência
frase-chave: deixa-te de tretas, o teu Deus é um Deus de silêncio
- noite de vigília
ter uma luzinha nas mãos
ganhar um novo alento
aceitar dobrar os joelhos mesmo quando não percebo
"Entrando na casa viram o Menino com Maria, Sua mãe.
Prostrando-se, adoraram-n'O" Queridos amigos, esta não é uma história distante,
que se verificou há muito tempo. Ela é presença. Aqui na hóstia sagrada Ele está
diante de nós e no meio de nós. Como então, vela-se misteriosamente num santo
silêncio e, como então, precisamente assim revela o verdadeiro rosto de Deus.
Ele fez-se para nós grão de trigo que cai na terra e morre para dar muito fruto
até ao fim do mundo. Ele está presente como naquela época estava presente em
Belém. Convida-nos para aquela peregrinação interior que se chama adoração.
Coloquemo-nos agora a caminho para esta peregrinação e peçamos-Lhe que nos guie.
in Discurso da Vigília em
Marienfeld
no final um encontro a lembrar Roma2000 com um amigo
como foi bom saber que há amizades verdadeiras
como foi bom dançar na roda
e levantar os braços e louvar a Deus
- manhã em Marienfeld
pedir que O que não é amado o seja
pedir que o meu coração se transforme
esperar que se faça história
Nós próprios devemos tornar-nos Corpo de Cristo, seus
consaguíneos. Todos comemos o único pão, mas isto significa que entre nós nos
tornamos uma só coisa. A adoração, dissémos, torna-se união. Deus já não está só
diante de nós, como o Totalmente Outro. Está dentro de nós, e nós estamos n'Ele.
A sua dinâmica penetra-nos e de nós deseja propagar-se aos outros e difundir-se
em todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do
mundo
in Homilia da Missa em Marienfeld
começar o regresso...
quinta-feira, setembro 08, 2005
pensar?
Face ao incremento da complexidade, precisamos, mais do que nunca, de um
pensamento simplificador; mas que não seja mutilante.
Edgar Morin
está quase o resumo de alemanha... ou não?
Natividade
De gentes simples, obscuras,
Foi como se a Lua Cheia
Enchesse de ouro as alturas.
Para breve o relato de Alemanha..
quinta-feira, agosto 18, 2005
A presença separada
Sobre a escultura de Giacometti
bronze (1959-1960)
segunda-feira, agosto 15, 2005
Assunção da Mulher
não temas não olhes segue!
corre mais, corre
chega ao lugar que te sossegue
vai mulher, salta
levanta mais alto as mãos
salta alto, salta
mete de parte pesos vãos
vai mulher, grita
geme como quem dá à luz
grita ao mundo, grita
que te oiça quem te seduz
vai mulher, cresce
não tenhas medo da solidão
segue o deserto, segue
rasga por dentro o coração
levanta-te mulher
apanha as migalhas e caminha
levanta o corpo e entrega-o
levanta o cálice e derrama-te
vai mulher
ama
Assunção da Virgem
... do Hino Akathistos
A ti, Maria, como a general invencível, meus cantos de vitória!
A ti, que me livraste de meus males, ofereço meus cantos de reconhecimento.
Pois que tens uma força invencível, livra-me de toda espécie de perigos, a fim de que te aclame: Ave, Virgem e esposa!
Desejava a Virgem entender o mistério, e ao divino mensageiro pergunta:
Poderá uma virgem dar à luz um menino?
sábado, agosto 13, 2005
caminho de infância..
...quando supostamente queremos crescer
(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...
O Menino Grande (excerto), Sebastião da Gama em Itinerário Paralelo, 1952
recortes de uma colónia
mãozinhas pequeninas que nos tocam terapeuticamente
e do toque da pele chegam ao coração da alma
suavizamos
pela contemplação com as crianças
das pequenas coisas
simples
como as conchas do mar
olhar o mundo com os olhos grandes
olhar a vida com a esperança de quem está no início
e confiar em quem nos guarda
longe dos pesadelos
quem nos dá um colo
chorar e rir porque a fala é tão complicada
conhecer vendo e estando porque falar complica sempre
esperar as surpresas
crescer nas correcções
birras amuos
personalidades já tão vincadas
e partindo das carências tantos tantos tesouros
imaginar a maternidade..
_______________________
A Flor
- Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée. Je donne toute ma mesure, tous mes moyens. Et après, si ce que j'ai fait n'est pas bon, je n'en suis plus responsable; c'est que je ne peux vraiment pas faire mieux. Henri Matisse
Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutra; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essa linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, 1921
terça-feira, agosto 02, 2005
uma história do mar
a bruxa sozinha pensou no mar
e longe longe foi passear
chegou cedo a esse lugar
e ficou sossegada
talvez a descansar
na altura certa da falta de ar
levantou-se rápido a caminhar
quem diria o qu'ia encontrar
uma pedra rachada
com jeitos de brincar
surpresa! ela nem quis olhar
passou entre pessoas a passar
e a criança finge não notar
essa grande fachada
do querer (não) encontrar
a pedra ficou, olhava o mar
estava com outras talvez a gozar
a bruxa chegou e foi nadar
uma grande braçada
para não desesperar
voltava às vezes a esperar
que a pedra a (não) fosse procurar
o tempo passou e ela olhar
quebrou-se o nada
do real a regressar
meninos e meninas, não vão acreditar
mas as pedras são mestras no fazer lembrar
têm dentro os segredos
do tempo das bruxas
têm dentro os segredos
do fundo do mar
(mesmo que depois venham a apagar...)
quinta-feira, abril 28, 2005
AABA
a cantar perto da minha janela
- quando estava em sonhos cor-de-rosa -
felizes.
o problema são os gatos
a minha gata gosta de caçar
- é estranho acordar dos sonhos felizes -
e também das festas.
mas não vi a gata
devia estar a dormir
- às vezes gosto mais da realidade -
à porta.
não fui abri-la
não mexi nas fitas barulhentas
- da realidade que traz consigo esperança -
do reflexo de Pavlov.
terça-feira, abril 26, 2005
um café cheio, sff
Parece que às vezes é complicado
entre o estar e o não estar
entre o toque e a ausência
estar naquele ponto
tempo e espaço
e não tempo e não espaço
estar naquele suposto ponto do suposto equilibrio
ou da suposta paz.
Mas a paz é passageira,
esta pelo menos,
quando ainda não estou
completamente
totalmente
assente
com os pés no essencial.
Sem o eixo
sem a referência
(terão de ser duas, senão baloiça e baloiça
um lindo baloiço com duas crianças
ao menos não são dois adultos
seria ridículo!)
sem os dois referenciados
ao mesmo nível
da suposta estabilidade contínua.
Sem o eixo
central, que une dois pontos
sem o eixo essencial
ainda é difícil aquela paz que joga para sempre.
O mundo rasga-se
- sou só eu afinal, mania a minha -
que o véu se rompa
- que assim o seja sempre -
mas ainda não é tempo de paz
daquela deixada por quem não nos deixou
(não me deixaste à espera naquele tempo e espaço?
agora larga-me!
...ou prende-me
mas rápido e sem lugar!)
Chegaremos a esse dia
em que marcamos nas nossas vidas
o sabor (gosto e olfacto)
o sabor do sal
o sabor do "até que.."
até que um dia sejamos entregues nas mãos de quem não nos prende.
até esse dia
forço-me a esperar.
domingo, abril 24, 2005
Actualizar
- Habemus Papam e estou confiante: Bento XVI (eu não conhecia assim tanto sobre o Ratzinger, ele era para mim como o alemão de ferro que garantia a segurança do tesouro da fé) está a aparecer na minha vida como um homem de grande profundidade
- perceber as minhas contradições: quanto mais confiante mais tentada a fugir
- perceber os desafios: mergulhar na Misericórdia, mergulhar no Amor
- perceber os compromissos: reavivar o amor que se coloca nas pequenas coisas que se fazem
... (re)caminhar
O objectivo do meu pontificado não é cumprir a minha vontade, não é impor as minhas ideias, mas ouvir, em conjunto com toda a Igreja, o mundo e a vontade do Senhor
sábado, abril 02, 2005
Papa
Pai e Pastor da Igreja
A palavra Papa deriva da sigla latina retirada da designação Petri Apostoli Potestatem Accipiens (o que recebe o poder de Pedro) e da união das primeiras sílabas das palavras latinas “Pater” e “Pastor” (Pai e Pastor).
De acordo com o magistério da Igreja Católica, o Papa, como bispo de Roma, está na linha sucessória do apóstolo Pedro, de quem herda a missão de ser o vigário de Cristo na Terra e o primado da autoridade entre todos os bispos.
As designações do Sumo Pontífice, como Pai e Pastor, surgem no seio da Igreja como expressões da sua função protectora dos fiéis, por quem deve velar com atenção paternal, e pelo facto de biblicamente Pedro ter recebido o encargo de cuidar do rebanho da Igreja – forma tradicional de designar a comunidade dos fiéis.
(...)
in Público
domingo, março 27, 2005
segunda-feira, março 14, 2005
5º Domingo
Matinas do sábado de Lázaro
Porque eras Deus verdadeiro, tu conhecias, Senhor, o sono de Lázaro e preveniste os teus discípulos...
Mas na tua carne, Tu, que no entanto não tens limites, vens até Betânia.
Chorando sobre o teu amigo, na tua compaixão puseste fim às lágrimas de Marta;
pela tua Paixão voluntária, secaste todas as lágrimas do rosto do teu povo (Is 25,8).
"Bendito sejas, Deus de nossos Pais!" (Esd 7,27).
Quanto a mim, estrangulado pelas amarras dos meus pecados, ergue-me também e eu cantarei:
"Bendito sejas, Deus dos nossos Pais!"...
Como mortal, invocas o Pai;
como Deus, despertas Lázaro.
Tu andas, falas, choras, meu Salvador, mostrando a tua natureza humana;
mas, ao despertares Lázaro, revelas a tua natureza divina.
De uma maneira indizível, Senhor, meu Salvador, de acordo com as tuas duas naturezas e de uma forma soberana, realizaste a minha salvação.
domingo, março 06, 2005
4º Domingo
Contra as Heresias
Quando se tratou do cego de nascença, não foi só por uma palavra mas por uma acção que o Senhor lhe concedeu a vista. Não agiu assim sem razão nem por acaso, mas para que conhecêssemos a Mão de Deus que, no princípio tinha modelado o homem. Por isso, quando os discípulos lhe perguntaram de quem era a culpa deste homem ser cego, dele mesmo ou dos seus pais, o Senhor declarou: "Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus". Estas "obras de Deus" são, primeiro que tudo, a criação do homem que a Escritura bem descreve como uma acção: "E Deus tomou um pouco de argila e modelou o homem" (Gn 2,7). Foi por isso que o Senhor cuspiu no chão, fez lama e ungiu os olhos do cego. Mostrava assim de que modo se tinha realizado a moldagem inicial e, para aqueles que eram capazes de compreender, manifestava a Mão de Deus que tinha esculpido o homem a partir da argila...
E porque, nesta carne modelada em Adão, o homem tinha caído na transgressão e precisava do banho do novo nascimento (Tt 3,5), o Senhor disse ao cego, após ter-lhe untado os olhos com a lama: "Vai lavar-te à piscina de Siloé".
Concedia-lhe assim ao mesmo tempo a remodelagem e a regeneração operada pelo banho. Desta forma, depois de se ter lavado, "ele regressou, vendo bem", a fim de reconhecer aquele que o tinha remodelado e aprender ao mesmo tempo quem era o Senhor que lhe tinha dado a vida...
Assim, aquele que, no princípio, tinha modelado Adão e a quem o Pai tinha dito: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança" (Gn 1,26), esse mesmo se manifestou aos homens no fim dos tempos e remodelou os olhos deste descendente de Adão.
domingo, fevereiro 27, 2005
3º Domingo
A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.
O Evangelho garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva .
in www.agencia.ecclesia.pt
______
Se eu conhecesse o dom que Deus tem para dar e Quem é que me diz: 'dá-Me de beber'..
______
Mario Sironi: Christ and the Samaritan woman (1947)
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
2º Domingo
Sermão sobre a Transfiguração
«Este é o meu filho muito amado, no qual pus todo o meu amor»
Ele conduziu-os ao cimo da montanha para lhes mostrar a glória da Sua divindade, e lhes dar a saber que Ele era o Redentor de Israel, como o havia mostrado pelos Seus profetas...
Eles tinham-nO visto comer e beber, cansar-se e descansar, adormecer e dormir, suportar o terror até às gotas de suor, tudo coisas que não pareciam nada em harmonia com a Sua natureza divina e só convir à sua humanidade. Eis a razão pela qual os conduziu à montanha, a fim de que o Pai Lhe chamasse Seu Filho e lhes mostrasse que Ele era mesmo Seu filho, e que era Deus.
Conduziu-os à montanha e mostrou-lhes a Sua realeza antes de sofrer, o Seu poder antes de morrer, a Sua glória antes de ser ultrajado e a Sua honra antes de sofrer a ignomínia. Assim, logo que fosse preso e crucificado, os Seus apóstolos compreenderiam que não o fora por fraqueza, mas por consentimento e de bom grado, pela salvação do mundo.
Conduziu-os à montanha e mostrou-lhes, antes da Sua ressurreição, a glória da Sua divindade. Assim, logo que ressuscitasse de entre os mortos na glória da Sua divindade, os Seus discípulos reconheceriam que não recebia essa glória em paga da Sua dor, como se disso precisasse, mas que ela Lhe pertencia desde antes dos séculos, com o Pai e junto do Pai, tal como Ele próprio diz quando a sua Paixão voluntária se aproxima: «Pai, glorifica-me com a glória que tinha junto de Ti, antes do princípio do mundo» (Jo 17,5).
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Lua
Ricardo Reis
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14-2-1933
a lembrar a Lua sobre o rio..
a lembrar as pessoas que não são "pessoinhas"..
domingo, fevereiro 13, 2005
1º Domingo
Comentário
Temos de recordar a forma como o primeiro Adão foi expulso do Paraíso para que a nossa atenção se fixe na forma como o segundo Adão (1 Co 15,45) regressa do deserto ao Paraíso.
Com efeito, vemos que a primeira condenação é desfeita da mesmo forma que tinha sido feita e que os benefícios divinos são restabelecidos sobre as marcas dos antigos.
Adão vem de uma terra virgem, Cristo vem da Virgem;
aquele foi criado à imagem de Deus, este é a Imagem de Deus (Col 1,15);
aquele foi colocado acima de todos os animais sem raciocínio, este acima de todos os seres vivos.
Por uma mulher veio a loucura, por uma virgem a sabedoria;
a morte veio de uma árvore, a vida veio pelo cruz.
Um deles, despido do vestuário espiritual, teceu uma veste com folhas de árvore; o outro, despido do vestuário deste mundo, nunca mais desejou uma veste material (Jo 19,23).
Adão foi expulso para o deserto, Cristo volta ao deserto, porque sabia onde encontrar o condenado que traria de novo ao Paraíso, liberto da sua falta...
Como é que, sem guia, poderia encontrar no deserto o caminho perdido, aquele que, por não ter guia, tinha perdido no Paraíso o caminho que seguia?
Ali, as tentações são muitas, o esforço em ordem à virtude é difícil e é fácil tropeçar no erro...
Sigamos então a Cristo, conforme está escrito:
"Caminharás após o Senhor teu Deus e ligar-te-ás a Ele" (Dt 13,4)...
Sigamos então os seus passos e poderemos regressar do deserto ao Paraíso.
Banho pela manhã
vai-se sempre aos mesmos lugares comuns..
o que eu espero da eleição do futuro Papa?
que seja feita segundo a vontade de Deus, à luz do Espírito
(para isso convém que reze mais do que entrar em "filosofias" ou "políticas")
graças a Deus, a Igreja não é democrática!
o que eu gostava de encontrar no futuro Papa?
um amor a Jesus e à Sua Esposa tão grande como o de João Paulo II, que se entrega totalmente nas mãos de Deus
e se eu fosse sacerdote?
eu, mulher, vejo-me tão feliz no lugar do Corpo de Cristo, no lugar da Esposa de Cristo que, ao contrário dos judeus, dou graças a Deus por Ele me ter feito assim, me ter colocado naquele lugar que me deixa contemplar Jesus, que me faz querer que Jesus "encarne" na minha vida, me tome para Si.
sábado, fevereiro 12, 2005
Hoje foi assim
dou um giro pelo hiper em busca de artigos de papelaria
aproximo-me da caixa para pagar,
atrás de mim, um casal
"ai os homens, não se pode confiar neles"
enquanto desabafava, ia tirando as compras do carrinho
e o homem, de olhar brilhante e face rosada
"olha que a garrafeira não é para ficar ocupada com isto"
e toca nas garrafas que não são bebida
a mulher resmunga "isso é o que vamos ver"
....
olhei para o caixa
e naquele instante creio ter passado pelas nossas cabeças a mesma coisa
como é triste quando o amor acaba
desço as escadas rolantes
ela vinha um pouco à minha frente
ele um pouco atrás dela
ela a chorar
ele com um ar vazio de significado
mas será que ele não a abraça?
... e não abraçou.
por fim chego a casa
percebo que aquele vazio preocupante pela manhã
era ilusão
e entrego a Deus quem me faz feliz
Uma gota
Mafalda Veiga
Eu sinto os teus passos
Na escuridão
Pressinto o teu corpo
No ar, aqui
E vou como se o mundo todo fosse
Sugado pra dentro de ti
E não houvesse nada a fazer
Senão deixar-me ir
Pressinto os teus gestos
Quando não estás
Procuro os teus sonhos
Perdidos
E hoje mais que qualquer outra noite
Há qualquer coisa que me fere
E que me faz querer tanto ter-te aqui
Não importa
Se às vezes tudo é breve como um sopro
Não importa se for uma gota
De loucura
Que faça oscilar o teu mundo
E desfaça a fronteira
Entre a lua e o sol
Se um gesto cair assim
Despedaçado
Se eu não souber
Recolher a dor
Se te esperar a céu aberto
Onde se esconde
O que tu és que eu também sou
É que hoje mais que qualquer outra noite
Há qualquer coisa que me fere
E que me faz querer tanto ter-te aqui
Diário de ontem
Apontamentos breves
- a correcção da pontualidade é complicada
- responder a pequenas coisas demora às vezes tanto como responder a grandes
- os encontros entre amigos que não se vêm há muito avaliam-se pela espontaneidade do abraço
- os encontros entre amigos não se avaliam?
- a partir dos 12 anos deixa-se de ser menina
- um quarto de século é ainda pouco para avaliar a vida
- a intimidade é difícil em grupo
- um grupo é difilmente íntimo
- a impulsividade da resposta treina-se
- o impulso da resposta treina-se
- a precipitação é sinónimo de chuva.. e a chuva faz falta à terra seca!
Diário de bordo
Porque os mares antigos são a Distância Absoluta
O Puro Longe, liberto do peso do actual
Álvaro de Campos
___________________________________
o Puro Longe não será ao mesmo tempo o Puro Perto?
o peso do actual será insuportável?
o que me distancia são esses mares antigos?
... o que eu queria era navegar por mares novos...
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Hoje foi assim (dia 1 fev)
- não recebeu a minha mensagem?
a pontualidade é a virtude das pessoas que morrem de tédio. e eu estava numa daquelas manhãs em que não se quer acordar
então que me conta?
- (silêncio e sorriso, ver o brilho no olhar)
já lhe passou o amok?
- é preciso manter um certo nível de amok, não acha?
run amok: to run around in a wild and uncontrolled way, often destroying things or killing people
que idade tem?
-
feitos quando
- 23 novembro
ah! ainda é escorpioa (brilho no olhar de escorpião)
- por pouco não
mas ainda tem ares, não?
- pois
como nos divertimos com isto..
_________________
a questão da espera..
e a dada altura há um toque
_________________
a pergunta
"sabes quando Jesus está com os apóstolos...
(estás em barcelona, não é?)
... sabes o significado daquele gesto com a mão, os dedos...
(estás a telefonar-me de barcelona, não é?)
... os 3 dedos ao alto e os outros dois, estás a ver?
(sim estou a ver)
... o que significa?"
a resposta terá sido dada antes?
Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas,
ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca
e corramos com perseverança para o combate
que se apresenta diante de nós,
fixando os olhos em Jesus,
guia da nossa fé e autor da sua perfeição.
Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance,
Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia,
e está sentado à direita do trono de Deus.
Pensai n’Aquele que suportou contra Si
tão grande hostilidade da parte dos pecadores,
para não vos deixardes abater pelo desânimo.
Vós ainda não resististes até ao sangue,
na luta contra o pecado.
Hebr 12, 1-4
31 foi assim
We have a map of the piano
Mum
Please don't flow so fast
You little mountain hum
I'll take a bottle down to you
Please don't flow this fast
You hold a little hum
I'll bottow sounds of me for you
Please don't flow so fast
You little mountain din
I'll bottow piano sounds from you
Please don't flow so fast
You little mountain noise
I'll close my eyes and bite your tongue
terça-feira, fevereiro 01, 2005
segunda-feira, janeiro 31, 2005
Viver
Comentário ao Evangelho do dia feito por
Venerável Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saará
Meditação 194 sobre os Evangelhos
“Vai para tua casa, para perto dos teus;
anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti”
Assim que desejamos seguir Jesus, não nos surpreendamos se Ele não o permite imediatamente, ou mesmo se ele não o permite nunca... Com efeito, ele vê mais longe do que nós; ele quer, não somente o nosso bem, mas o bem de todos...
Seguramente partilhar a sua vida, com e como os apóstolos, é um bem e uma graça, e devemos sempre esforçarmo-nos por nos aproximar desta imitação da sua vida. Mas... a verdade, a única perfeição, não é levar este ou aquele estilo de vida, é fazer a vontade de Deus; é levar o género de vida que Deus quer, onde ele quer, e levá-lo como ele próprio o teria levado... Quando ele deixa a escolha a nós próprios, então sim, procuremos segui-lo passo a passo o mais exactamente possível, partilhar a sua vida tal como ela foi, como o fizeram os seus apóstolos durante a sua vida e depois da sua morte: o amor leva-nos a esta imitação... Quando a sua vontade nos quiser algures, vamos onde ele quiser, levemos o género de vida que a sua vontade nos designar, mas em qualquer lugar aproximemo-nos dele com todas as nossas forças e sejamos em todos os estados, em todas as condições, como ele próprio seria se ele tivesse sido conduzido aí, se a vontade do seu Pai o tivesse aí colocado como nos colocou a nós.
http://www.evangelhoquotidiano.org
enraizar a Cruz no coração
viver o dia-a-dia como Jesus viveu 30 anos em Nazaré
domingo, janeiro 30, 2005
Domingo de Bem Aventuranças
...Jesus gosta do que é belo!
rezar este Evangelho no próprio lugar onde foi proclamado:
sentir o coração a rasgar com a beleza deste lugar
perceber o cheiro da terra pisada pelas multidões em busca d'Ele
querer ser essa pobre do Espírito, pedi-l'O insistentemente,
como quem joga a vida nesse pedido.
procurar a beleza interior.. e guardar esse tesouro da fé com amor e temor!
encontros
Casca
Toranja
Continuamos a tratar da casca
Continuamos a moldar a casca
Continuamos a remar de costas
E a provar águas quase mortas
E a viver ruas já pisadas
E a levar pedras já usadas
Num saco meio roto
Num saco meio morto
Tentamos não manchar a casca
Para fazer brilhar a casca
Tentamos não parar de costas
Tentamos não falhar respostas
Que nunca nos vejam de fora!!
É para nós que o mundo adora
Passos de dança no chão
É para nós que os olhos olham.
Tentamos disfarçar demónios
Por medo desviamos olhos
Por fuga apagamos fogos
Por escudos renascemos novos
Sem rasto esquecemos lábios
Altivos, rastejamos, sábios
Cada vez mais fundo
No buraco do mundo
Com força agarra-se a casca
Que é só o que nos resta
Que o mastro derreteu
Mais tudo encolheu
Quisemos testar barreiras
E construímos teias
Difíceis de romper
E aqui ficamos presos
...na casca.
Casca é tempo que dói
É janela fechada que estilhaça
quando se olha para trás..
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca!!
Não se olha para trás!
ok, porque não posso ser assim? (ver resposta a seguir)
Lado (a lado)
Mafalda Veiga
Há gente que espera de olhar vazio
Na chuva, no frio, encostada ao mundo
A quem nada espanta
Nenhum gesto
Nem raiva ou protesto
Nem que o sol se vá perdendo lá ao fundo
Há restos de amor e de solidão
Na pele, no chão, na rua inquieta
Os dias são iguais já sem saudade
Nem vontade
Aprendendo a não querer mais do que o que resta
E a sonhar de olhos abertos
Nas paragens, nos desertos
A esperar de olhos fechados
Sem imagens de outros lados
A sonhar de olhos abertos
Sem viagens e regressos
Outro dia lado a lado
Há gente nas ruas que adormece
Que se esquece enquanto a noite vem
É gente que aprendeu que nada urge
Nada surge
Porque os dias são viagens de nínguém
A sonhar de olhos abertos
Nas paragens, nos desertos
A esperar de olhos fechados
Sem imagens de outros lados
A sonhar de olhos abertos
Sem viagens e regressos
A esperar de olhos fechados
Outro dia lado a lado
Aprende-se a calar a dor
A tremura, o rubor
O que sobra de paixão
Aprende-se a conter o gesto
A raiva, o protesto
E há um dia em que a alma
Nos rebenta nas mãos
sábado, janeiro 29, 2005
Hoje foi assim
Maria Helena Vieira da Silva,Enigma, 1947
Escuro e luar
Mafalda Veiga
Feitos de chão, de chuva e sonho
fora do tempo
despedaçado o que fica de nós
nas batalhas sentidas cá dentro
por isso é que eu sigo esse brilho da noite
que é estrela ou chama
olhar ou mar
e vou procurar essa luz
mas só quero lá chegar contigo
feitos de tempo em mil pedaços
de escuro e luar
há uma noite que é escolhida pra ser
essa noite que se há-de guardar
por isso é que eu sigo esse brilho ou calor
que é estrela ou chama
ou tu em mim
e vou pra poder descobrir
quem é que ainda sou contigo
dispo o cansaço e recomeço
mais uma vez
há um sorriso que nos salva do frio
e recolhe o que a vida desfez
se me desarmo noutro feitiço
num outro olhar
há um abrigo que não deixa morrer
quem nós somos e o que temos pra dar
por isso é que eu sigo esse brilho da noite
que és tu em mim
ou quem eu fui
e vou pra poder descobrir
quem é que ainda sou contigo
sexta-feira, janeiro 28, 2005
quinta-feira, janeiro 27, 2005
a questão do chocolate...
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
(...)
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
_____
amanhã é um daqueles dias,
um pouco distantes
que dispensava no currículo.
amanhã será uma daquelas conversas que não quero pensar
vou levantar-me
ou pelo menos gostava de levantar-me
vou levantar-me e olhar o mundo alheio
não com incredulidade mas como quem não quer pensar
não quer arriscar
não quer pensar no que pode ou não dizer
no que pode ou não fazer para conquistar o mundo
se calhar é só uma questão de paixão
não de necessidade
mas do desejo "que é o que permanece quando as necessidades estão resolvidas"
do desejo de ao menos saber o que desejo
que tolice!
eu não sonhei que conquistei o mundo
e nem quero conquistá-lo
talvez até seja fácil fazê-lo, àqueles que parecem ter sempre sucesso
antes quero a verdade do chocolate
não comer mas saborear
não deter-me no papel de estanho (que é só embrulho)
mas perceber a textura, o aroma, o sabor
...
não a necessidade mas o desejo
amanhã é outro dia
... e o céu há-de brilhar
um dia
quarta-feira, janeiro 26, 2005
Às vezes dá vontade...
Pelos Ares (2002)
Adriana Calcanhotto / Antonio Cícero
Não lhe peço nada
Mas se acaso você perguntar
Por você não há o que eu não faça
Guardo inteira em mim
A casa que mandei
Um dia
Pelos ares
E a reconstruo em todos os detalhes
Intactos e implacáveis
Eis aqui
Bicicleta, planta, céu,
Estante cama e eu
Logo estará
Tudo no seu lugar
Eis aqui
Chocolate, gato, chão,
Espelho, luz, calção
No seu lugar
Pra ver você chegar
Cavalo voador e malabarista. Marc Chagall, 1887, litografia 1956
terça-feira, janeiro 25, 2005
sempre fui teatral...
Actress (AM-FM)
You're stuck at home, standing alone
This time you're choking with your words
Staring your face, faking an end
You act a dream that it's not yours
You pretend and perform, don't you ever stop trying
You were meant to be
You're suppose to be
The most happy girl in this whole world
You're a part of me
Don't you ever be
Far away from me in this whole world
The Gift
Marc Chagall - Le Cirque bleu (1950)
segunda-feira, janeiro 24, 2005
sexta-feira, janeiro 21, 2005
retomo... cantando!
Eu cantarei,
quando a manhã abrir as portas do meu esforço,
eu cantarei,
quando o alto-dia me fizer fechar os olhos,
eu cantarei,
quando a noite entrar como a Imperatriz vencida
eu cantarei a Tua Glória e o meu desígnio
eu cantarei
e nas estradas ladeadas por abetos,
nas áleas dos jardins emaranhados
nas esquinas das ruas, nos pátios
das casas-de-guarda,
a Tua Vitória entrará como um som de clarim
e o meu desígnio esperá-la-á sem segundo pensamento.
Álvaro de Campos (Pessoa: 1888-1935)
Poesia