Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
(...)
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
_____
amanhã é um daqueles dias,
um pouco distantes
que dispensava no currículo.
amanhã será uma daquelas conversas que não quero pensar
vou levantar-me
ou pelo menos gostava de levantar-me
vou levantar-me e olhar o mundo alheio
não com incredulidade mas como quem não quer pensar
não quer arriscar
não quer pensar no que pode ou não dizer
no que pode ou não fazer para conquistar o mundo
se calhar é só uma questão de paixão
não de necessidade
mas do desejo "que é o que permanece quando as necessidades estão resolvidas"
do desejo de ao menos saber o que desejo
que tolice!
eu não sonhei que conquistei o mundo
e nem quero conquistá-lo
talvez até seja fácil fazê-lo, àqueles que parecem ter sempre sucesso
antes quero a verdade do chocolate
não comer mas saborear
não deter-me no papel de estanho (que é só embrulho)
mas perceber a textura, o aroma, o sabor
...
não a necessidade mas o desejo
amanhã é outro dia
... e o céu há-de brilhar
um dia
Sem comentários:
Enviar um comentário