Os fundamentos lógicos da ciência, os fundamentos da própria lógica, que se tinha pensado serem eternos, vêem-se de repente fortemente abalados. Einstein apresenta uma surpreendente teoria da relatividade que invalida certos princípios da ciência clássica, e em particular a distinção espaço-tempo. Freud, inventando a psicanálise, destrói a psicologia superficial e racional em que tudo tendia a ser branco ou preto. (...) a química torna-se não lavoisieriana, a mecânica não newtoniana, a geometria não euclediana, a lógica não aristotélica. E a epistemologia não cartesiana. (...) Na realidade, apesar da esperança que um regresso à religião podia oferecer a alguns*, jovens chefes de fila como Malraux, Aragon ou Sartre mostram-se convictos de que "Deus morreu". (...)
Desorientados e angustiados, estes jovens intelectuais viram-se para aqueles que sentiram uma perturbação idêntica à sua, em particular Nietzsche, Kierkegaard e Dostoievski (poderíamos mencionar também Kafka, mas este só conhece grande popularidade após a guerra). (...)
Este sentimento ["trágico da vida"] impregna não só as filosofias existencialista e camusiana mas também este Teatro da Irisão que, em certos aspectos, constitui um prolongamento delas.
in Emmanuel Jacquart. O teatro da irrisão: temas, atitudes, composição. Cadernos CTA 6
a vertigem do início do século XX fascina-me! a capacidade de questionar tudo, uma quase reinvenção e recolocação do homem na criação... e depois tantos que só encontram a agonia da apenas existência, sozinhos, sem encontrarem explicação de si no Verbo... como malabarismos da razão sem a rede da fé... a partir destes, tantos errantes.
* nota minha: por exemplo, Paul Claudel.