sábado, julho 17, 2004

retomar a Tabacaria

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

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benvindos à rua do mistério

ó fernando, estás a olhar pela janela?

que seja uma, muitas dividem a atenção
("a pedra não é a indicada para um sitio destes, o sal corroi-a"
aquela figura mordida de S. Pedro à entrada de uma igreja escura -a confusão que isso me faz
aquela curva e contracurva e curva e contracurva e.. "não enjoas?" não! cresci!
o problema dos carros, uma janela para múltiplos cenários à velocidade mais ou menos permitida)

fernando, esse auto desprezo magoado.. tem cuidado com o fígado, sim?

as janelas são problemáticas.
mas, se dividem a atenção, parece que vão ter à mesma rua, em diferentes perspectivas, com diferentes pontos de fuga

a rua do mistério é uma só e toda a gente passa por ela

mas achas essa rua inacessível ao pensamento?
se calhar falta abrires a porta..
se não o fizeres o real parece impossível
o certo ainda tão desconhecido

não tenhais medo...

o mistério está nas coisas, marca-as




CHAGALL, Marc. O violinista, 1912. In: BECKETT, Wendy.
História da Pintura. São Paulo, Ática, 1997. p. 345.

«Os traços de CHAGALL combinam suas fantasias às cores sensuais e às técnicas da arte avançada, mas o seu espírito não foge à eterna busca da felicidade esse “desejo que é comum aos seres humanos”(BECKETT).»


o mistério está nas coisas, marca-as

se apenas sustentasse as coisas, o mistério seria corrompido pela morte
se apenas fosse pisado por nós, isso do destino era fatal

mas (eu repito, insisto)
o mistério está nas coisas, marca-as

o mistério está também em quem passa pela rua
e a morte não corrompe quem o sabe
e o destino, também ele mistério, passa a ser vocação
com a vocação a fazer-nos andar, em unidade, até à plenitude


Non abbiate paura! Aprite, anzi, spalancate le porte a Cristo!


não tenhas medo..
abri, ou melhor, escancara a porta do teu coração


... ó fernando, vem para a rua!









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