Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
estas primeiras palavras de Campos, na sua tabacaria (defronte à loja de fumo) deixam-me num estado insuportável de "rasgo".
quando as li pela primeira vez, no 12º devorei-as, "que giro!" mas, numa altura de profunda lucidez (quase de profecia) chorei com elas.
acho q foi isso.. desisti com elas, ainda não tinha começado.
Campos era um doido.. ainda bem!
sempre me irritou a calmia do ricardo reis, a falta de impressão de carácter com que ele vivia ao de leve, para não estragar, não vale a pena a sua vida.
e o absurdo de alberto caeiro, não pensemos, não pensemos, não pensemos.. (não crer, não crer, não crer..) e acabar sempre por fazê-lo!
pessoa? um homem vulgar, farto de ser vulgar, divididamente farto de ser vulgar.. divide-se, quebra-se, rasga-se, busca a unidade na divisão. exercício intelectual pacificante (?)
mas campos? ah! um doido, uma má influência (não gosto dele fernandinho - diz a doce ofélia), o escape da loucura de querer a vida e esta escapar-lhe entre as mãos.
começa bem.
não sou nada, nunca serei nada,
não posso querer ser nada!
divisão.. se por um lado se percebe "um nada", por outro irrita-se: não pode querer continuar assim! (outra leitura seria achar que ele não podia querer ser qualquer coisa.. não vou por aí, não quero!)
e depois um tom irónicamente ácido, com um sorriso sarcástico de quem às vezes não se leva muito a sério
à parte isso (que não é assim tão tão importante) tenho em mim todos os sonhos do mundo.
arghhhh. passar do sonho à realidade! que drama álvaro, que drama pessoa! um notário ou contabilista ou qq profissão dessas burocráticas, de função pública e depois o desespero de voltar a casa e teres esses sonhos de genialidade a corroerem-te. vai homem!
janelas do meu quarto (espreita por elas, sem bucolismos, sem essa saudade do que poderias ser, vai.. sai de casa!)
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